O material genético de ISTOÉ está diretamente relacionado com o da Time Magazine. Antes de os americanos Henry Luce e Brit Hadden engendrarem a Time, em 1923, não existia no mundo um semanário de informações gerais. O que povoava as bancas de jornais eram somente arrazoados com resumos de notícias paroquiais e de leitura indigesta. Somente a partir de 3 de março daquele ano – data da primeira edição da Time – o mundo se viu ocupado por uma publicação inteligente, cobrindo os eventos importantes em nível global, numa releitura analítica, mais minuciosa e atenta. Provava-se, também, que estilo e conteúdo não apenas podem como devem conviver harmonicamente. O sucesso desta criatura veio rapidamente: em 1924 a circulação de Time já batia a casa dos 107 mil exemplares semanais; hoje atinge o patamar dos 4,2 milhões, ocupando o primeiro lugar de vendas. O sucesso gerou filhos: não apenas dentro da própria corporação-mãe – que lançaria também as revistas People (tiragem: 3,6 milhões) e Fortune (tiragem: 875 mil), com alvos mais especializados, sobre os particulares daqueles indivíduos fazedores de notícias, no caso da primeira, e o dissecar da economia, na segunda –, mas também espalhou prole pelo planeta.

ISTOÉ é uma das suas descendentes. E, a partir de janeiro de 2006, essa ligação genética será fortalecida com o início da parceria entre o grupo AOL Time Warner Inc. e a Três Editorial, que publica as revistas ISTOÉ, ISTOÉ Gente e ISTOÉ Dinheiro. Com isso, os leitores dessas revistas serão brindados, semanalmente, com edições traduzidas da Time, People e Fortune. “Estamos globalizando a informação. Essa parceria com o maior grupo de revistas do mundo trará uma grande vitalização para nossa empresa e ampliará o leque de opções dos leitores”, disse Domingo Alzugaray, editor e diretor responsável pela Três Editorial.

Tradição – Henry Luce e Brit Hadden faziam parte da tradição Wasp, os americanos brancos, anglo-saxões e protestantes que compunham a elite do país. Amigos de adolescência, ambos se formaram pela mesma seletiva e exclusivista universidade de Yale. E foi a ética deste segmento que se implantou em Time. Luce, nascido na China em 1898, seguiu até a morte, em 1967, os padrões morais do pai, um missionário evangélico. Em sua formação ideológica, foi incorporada também a visão intervencionista do presidente Theodore Roosevelt (1901-09). O resultado foi uma ideologia devota a Deus e aos EUA, com ambições doutrinárias, que ele acreditava civilizadoras, e tendências conservadoras. Já Hadden (morto em 1929) impôs o estilo leve e brincalhão à revista.

“A noção que se tem dos EUA e de sua política, no mundo hoje em dia, foi, para o bem ou para o mal, forjada com a ajuda da Time de Luce. Materializou-se a visão, até certo ponto missionária e intervencionista. Essa linha editorial viria a mudar muito no fim dos anos 60, depois da morte de Luce. Hoje, a Time é muito mais liberal e menos intervencionista”, diz o escritor Robert Herzstein, autor da biografia Henry R. Luce. Não foi à toa que a expressão “século americano”, criada pela revista, tornou-se definitiva do século XX.

Foi esta incorporação dos ideários americanos que acabou por garantir alguns princípios fundamentais ao jornalismo. A liberdade de expressão, por exemplo, tem sido defendida e seguida com afinco nas páginas de Time. Os direitos civis, não apenas de cidadãos dos EUA como também de outras nacionalidades, constituem uma tradição nas páginas da Time, que remontam aos esforços de Luce pela igualdade dos negros já nos primórdios da publicação. Trilhou-se o mesmo caminho com relação a mulheres, homossexuais e outras minorias. Tudo sem que se perdesse a perspectiva da importância da notícia.

Essa fidelidade à notícia é um dos muitos atrativos vistos por ISTOÉ para esta parceria de afinidades que se estabelece agora entre a Três Editorial e a AOL Time Warner Inc. Os direitos de reprodução do material de Time, People e Fortune, a serem usados nas revistas ISTOÉ, ISTOÉ Dinheiro e ISTOÉ Gente, vão aumentar o cardápio de notícias e informações aos nossos leitores. Mas, como se verá, não houve fusões: não há sociedade. O material produzido pelas publicações obedecerá a discriminações, assim como estão separadas as empresas. Esta independência permitirá que a visão de mundo americana seja mais bem compreendida pelos brasileiros. O Brasil e os EUA têm interesses distintos. ISTOÉ e Time, a exemplo de seus países de origem, também apresentam percepções diferentes. Como o bom jornalismo é feito com a exposição de múltiplas perspectivas, o somatório de conteúdos informativos procura cumprir este ideal. E quem vai ganhar é o leitor.