Extrair um sorriso do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), é tarefa que requer talento e sutileza. Famoso por sua seriedade, não é qualquer gracejo que descontrai sua fisionomia. Mas nos últimos dias o governador teve dois bons motivos para sorrir. O primeiro foi a formatura de sua filha caçula, Roberta, a mais nova advogada do País. O segundo foi o bom resultado da pesquisa ISTOÉ/Databrain, que avaliou o desempenho de seu governo. Para mais da metade dos paranaenses entrevistados, a gestão fica entre boa e excelente. Assim, Requião deve desistir da aposentadoria que planejava a partir do momento que os dois filhos tivessem o diploma na mão. “Já poderia me aposentar. Mas preciso completar a nossa perestroika, ou seja, a reconstrução do Paraná”, diz Requião.

Se há algo que marca essa gestão é a luta pelos interesses do governo. É uma guerra aberta em várias frentes. Requião proibiu o ingresso da soja transgênica no Estado por acreditar que não há pesquisas que comprovem a segurança do uso das sementes. Asfaltou e recuperou mais de cinco mil quilômetros de estradas. Tudo para dar alternativas para o motorista fugir dos escorchantes preços das concessionárias do pedágio. Concessões essas que foram dadas na administração Jaime Lerner. A mais nova frente de batalha é contra o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Inconformado com a disposição do ministro de sacrificar o rebanho do Estado por uma suposta ameaça de febre aftosa, Requião está disposto a ir às últimas instâncias para proteger os interesses dos pecuaristas do Estado. “Contestamos e contestaremos todas as patifarias contra o Paraná”, afirma.

Mas a administração não é feita só de brigas. Na área do turismo, o governo comemora o feito de um milhão de visitantes nas Cataratas do Iguaçu. Desde 1987, auge do Plano Cruzado, a cidade não recebia tantos turistas. Outro programa relevante é o incentivo à agricultura orgânica. O Estado abriga a maior fazenda do gênero do mundo. A tecnologia desenvolvida ali é repassada para cerca de 3,7 mil pequenos produtores por todo o Estado. A ação tem um forte simbolismo, já que é reconhecida a luta de Requião contra os transgênicos. Para acentuar a ênfase na área social, quase 600 mil famílias são beneficiadas pelos programas Luz Fraterna e pela tarifa reduzida da água. O clã da dona-de-casa Maria das Neves da Silva, moradora da favela Zumbi dos Palmares, em Colombo, município da Grande Curitiba, é uma das beneficiárias dos programas. Com o dinheiro economizado na redução das tarifas, seu marido, o pedreiro José Milton, pode pagar as prestações da moto popular que comprou. Dona Maria também vai receber uma das novas casas do projeto de urbanização da Vila Zumbi. Para que no futuro não haja donas Marias dependendo das asas acolhedoras do Estado, Requião investe forte na educação. Nesse quesito há uma atenção especial para as atividades extracurriculares. O projeto Fera é uma das principais delas. Nele, mais de 44 mil alunos participaram de oficinas de dança, teatro, música, literatura e artes plásticas. Extasiados por serem os protagonistas da peça Branca de Neve e os sete anões, encenada num colégio estadual de Curitiba, a Branca de Neve Talissa Cibele de Lima Santos, nove anos, e o príncipe Diego Matheus Carlota Rocha, também de nove, já pensam em seguir “carreira”. “Gostei tanto que vou ser atriz. Quero ser igual a Carolina Dieckmann”, diz Talissa, uma das ferinhas do projeto. Apesar do sucesso, o contido Requião reconhece que ainda há muito o que fazer. Mas certamente os passeios a cavalo feitos nos arredores da bela granja Canguiri, sua residência oficial, têm sido bem mais doces e tranqüilos.