O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) subiu à tribuna da Câmara, na quarta-feira 14, para jurar inocência. Diante de um plenário quase vazio, disse estar sendo vítima de armação. “Podem vir do jeito que quiserem que vão encontrar aqui uma muralha”, bradou. Na semana passada, ISTOÉ trouxe à tona um episódio que pode custar o seu mandato. O integrante da CPI dos Correios e da CPI do Tráfico de Armas passou de investigador a investigado após ser acusado de vazar o depoimento sigiloso de uma testemunha para um empresário amigo. A testemunha, conhecida como Z, revelou o modus operandi de uma quadrilha especializada em trazer armas para o Brasil pela fronteira com a Argentina. Pompeo é acusado de ter entregue cópia do depoimento ao empresário Jair de Souza Rodrigues, um velho aliado seu que é apontado como financiador da quadrilha, fornecedora de armas e munições para organizações como o Primeiro Comando da Capital.

Graças a uma mãozinha do corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), Pompeo conseguiu, na terça-feira 13, retardar a abertura de um processo de sindicância para investigar o episódio. Depois de receber da CPI do Tráfico de Armas um acurado resumo do caso, o corregedor concluiu que ainda não pode abrir processo. Decidiu remeter o assunto de volta à CPI. “Primeiro, a CPI tem que concluir se o deputado tem culpa ou não”, disse o corregedor, após admitir que nem sequer leu todo o material que lhe foi enviado.

O presidente da CPI, Moroni Torgan (PFL-CE), avisou que, diante do entendimento de Ciro, a comissão dará seguimento à investigação por conta própria. “Se o corregedor acha que a CPI tem melhores condições de apurar, assumiremos a investigação”, disse Moroni.

A via-crúcis de Pompeo está apenas começando. Nos próximos dias, a Polícia Federal deverá ouvir em Uruguaiana os personagens da história protagonizada por Pompeo, que pode levá-lo às barras do Conselho de Ética. Ao mesmo tempo, a CPI espera avançar na investigação com a quebra do sigilo telefônico dos personagens envolvidos. Gravações feitas pela PF numa operação montada para vigiar a quadrilha também poderão ajudar a destrinchar o caso e devem complicar ainda mais a situação do deputado: há trechos em que o nome dele aparece em conversas entre os suspeitos. Ouvido por ISTOÉ, Rodrigues afirma que as acusações são mentirosas. “Esse rapaz (a testemunha Z) é um débil mental, um mentiroso”, disse.