O Natal do PMDB – o maior partido do País e o mais cobiçado nas eleições do ano que vem – promete ser diferente. O prato principal da ceia é a disposição de viabilizar um sonho em 2006: conquistar o Palácio do Planalto. O partido deverá ter candidato próprio depois de duas eleições presidenciais. A decisão une todas as alas de uma sigla cheia de líderes regionais. Agora, o maior desafio peemedebista é conseguir manter a data das prévias, 5 de março, que escolherão seu candidato, já festejado como a “Terceira Via”. Setores do PMDB liderados pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e pelo ex-presidente José Sarney (AP) concordam com as prévias, mas manobram para que elas se realizem em 1º de maio. O adiamento atingiria em cheio as postulações do ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho e a do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, que precisa se desincompatibilizar do cargo até 31 de março.

O presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), ressaltou a importância das prévias, “uma escolha democrática do candidato, feita num amplo colégio eleitoral que reunirá mais de 14 mil eleitores”, e não acredita ser possível um adiamento para depois de março. Temer convocará uma reunião da Executiva Nacional no dia 24 de janeiro, na tentativa de um consenso. No entanto, adverte que a data das prévias foi tomada em uma decisão da própria Executiva. Para ele, as prévias têm que acontecer em março. “Mudá-las do dia 5 para o dia 12 não faz diferença. O difícil é adiar para depois de março.”

Reação – Enquanto Renan insiste no adiamento sob o argumento de que isso “interessa a todos dentro do PMDB”, o governador Rigotto bate duro contra a manobra. “Essa articulação é um crime contra o partido. Me preocupa essa movimentação para evitar as prévias. Uma alteração para maio significa impedir que eu possa participar dela, impedir que eu e outros governadores sejamos candidatos. Como seremos candidatos em maio se teremos que renunciar no início de abril? Eu teria que deixar o governo por uma expectativa de ser candidato. Isso não tem lógica.”

Garotinho, que afirmou existir “um partido de traidores” dentro do PMDB, que
tenta empurrar as prévias para maio, espera que a decisão da Executiva seja mantida. O ex-governador, que ganha mais musculatura eleitoral, conforme
apontou a pesquisa CNI/Ibope – bateu, pela primeira vez, na casa dos 20% na preferência do eleitorado no primeiro turno –, sabe que sua candidatura tem um apoio maciço junto às bases. Em recente pesquisa de telemarketing com quatro mil eleitores peemedebistas para conhecer a posição do colégio eleitoral que votará nas prévias, 95% dos ouvidos são a favor de candidatura própria. A pesquisa mostrou ainda que 68% dos que defendem uma candidatura do partido têm preferência pelo nome de Garotinho. Os governadores Germano Rigotto e Jarbas Vasconcelos (PE) ficaram com 10% e 5%, respectivamente.

Na prática, Renan Calheiros e José Sarney estariam, com o adiamento das prévias, obrigando os governadores a desistirem de seus cargos antes de saber se serão o candidato do PMDB. “Não há a menor possibilidade de essa proposta ser aceita. É um verdadeiro golpe”, denuncia o deputado federal Geddel Vieira Lima, membro da direção nacional do PMDB. Geddel aposta que o grupo será derrotado na reunião da Executiva em janeiro: “Se eles tivessem voto, conseguiriam derrubar as prévias, que é o que na verdade queriam.” O presidente do PMDB de São Paulo, ex-governador Orestes Quércia, também é contrário ao adiamento, uma vez que a manobra vai excluir a participação dos governadores ou de qualquer candidato que tenha cargo eletivo. “A candidatura própria e as prévias são irreversíveis”, afirma. Integrantes da cúpula do PMDB sabem que a manobra proposta por um setor do partido que tenta adiar ou até inviabilizar a possibilidade de se escolher de forma direta e democrática o candidato da legenda pode não só desmoralizar o partido, mas rachá-lo, o que não interessa àqueles que querem ver realizado o sonho de ter um peemedebista na Presidência da República.