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NA BERLINDA
Assangi culpou o editor do jornal inglês “The Guardian” pelo vazamento. Não convenceu

Uma série de trapalhadas cometidas pelo WikiLeaks, notório site de vazamentos de informações confidenciais, corroeu a aura de libertário de seu fundador, o australiano Julian Assange, além de ter colocado em risco a vida de milhares de informantes do Departamento de Estado dos Estados Unidos em todo o mundo. Desde o final do mês passado, cerca de 250 mil arquivos diplomáticos tornaram-se públicos, sem nenhuma edição, o que permite a identificação de colaboradores do governo americano em países como Irã, China e Afeganistão. Entre essas pessoas encontram-se ativistas de direitos humanos.

Durante o ano de 2010, um pool de jornais e revistas, capitaneados pelo britânico “The Guardian”, o americano “The New York Times” e o alemão “Der Spiegel”, publicou os documentos vazados pelo WikiLeaks que colocavam na berlinda a diplomacia dos EUA. Contudo, os despachos eram publicados com tarjas pretas que cobriam os nomes dos informantes. Na época, o WikiLeaks passou a sofrer ataques de empresas e provedores de serviço que quase o tiraram do ar. Na tentativa bem-sucedida de salvar o site, o conteúdo foi distribuído aos seus apoiadores para que fossem criadas “páginas-espelhos”. O problema é que os arquivos originais, não editados, estavam inclusos nesse material, cujo acesso era dado por meio de uma senha.

Essa informação passou a ser divulgada na internet e rapidamente foi descoberta a senha para os arquivos originais. Há duas semanas, o próprio WikiLeaks chegou a fazer uma enquete no Twitter questionando se os despachos diplomáticos deveriam ser publicados no seu formato original ou não. Mas Assange colocou a culpa no “The Guardian”, pois o editor do jornal, David Leigh, havia publicado parte da senha em um livro sobre o WikiLeaks. “A decisão de tornar públicos os arquivos diplomáticos foi exclusiva do ‘Guardian’. Em nenhum momento eles nos consultaram”, afirmou Assange, em Londres, onde cumpre prisão domiciliar. Ele responde a um processo de extradição para a Suécia, onde é acusado de crimes sexuais. Organizações ligadas à luta pelos direitos humanos criticaram a iniciativa e enfatizaram sua preocupação com as consequências para os informantes que vivem em regimes ditatoriais. Uma prova de que verdade demais, às vezes, atrapalha.