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Instituto Dom Barreto
Nota no Enem 2010: 754,13
Posição no ranking do Enem:
Ano de criação: 1944
Número de alunos: 3.300
Média de alunos por sala: 35
Mensalidade ensino médio: R$ 696

Um oásis em meio ao deserto. Essa pode ser a analogia para entender o resultado das escolas particulares piauienses que se destacaram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2010, divulgado na semana passada. Quem consultou a lista das dez escolas com maior nota no teste pode constatar que o Piauí estava mais bem representado do que São Paulo. Enquanto a única instituição paulista era o Colégio Vértice (3º lugar), o Piauí emplacava o Instituto Dom Barreto (2º lugar) e o Educandário Santa Maria Goretti (7º lugar), ambos sediados na capital Teresina. A boa performance se repetia no ranking das 100 melhores: seis escolas eram piauienses, o que deixou o Estado em quarto lugar entre as unidades federativas com mais instituições na lista – atrás apenas de Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.

Se o bom desempenho dessas seis particulares enche de orgulho o piauiense, o mesmo não se pode dizer do resultado geral dos mais de seis mil colégios do estado. No ranking das unidades federativas, o Piauí é o antepenúltimo, à frente apenas de Tocantins e Maranhão e bem abaixo da média nacional. “Os colégios que apresentaram bons resultados são para a classe média alta, que é uma pequena fatia da sociedade piauiense”, analisa o professor Denis Barros de Carvalho, do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Federal do Piauí (UFPI). “Seus alunos têm um capital intelectual alto oriundo da própria família, o que é uma realidade bem diferente da encontrada nas escolas públicas, onde os pais dos estudantes muitas vezes são analfabetos.”

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Educandário Santa Maria Goretti
Nota no Enem 2010: 727,60
Posição no ranking do Enem:
Ano de criação: 1971
Número de alunos: 1.100
Média de alunos por sala: 25
Mensalidade ensino médio: R$ 798

Quando Dom Barreto e Santa Maria Goretti são analisados de perto, percebe-se que não há mágicas por trás do bom resultado. Ambos adotam um modelo rígido, com cargas horárias estendidas e cobrança individualizada. Se no Brasil um estudante do ensino médio não passa mais de cinco horas por dia em sala, nessas instituições a carga horária chega a exceder sete horas. “É mais fácil aprender tendo o professor para tirar as dúvidas do que estudando em casa”, atesta Luan Barbosa, 18 anos, ex-aluno do Santa Maria Goretti e atual estudante de medicina da UFPI. O rigor valeu às escolas um apelido popular entre alunos de outros colégios. Ficaram conhecidas como “fábricas de doido”.Amina Machado, 18 anos, estudante de arquitetura da UFPI e ex-Dom Barreto, diz não se incomodar com a brincadeira. “Para mim valeu a pena”, diz. Salas abarrotadas também não fazem parte do cotidiano desses alunos. “Para nós, as turmas menores são um pressuposto para conseguir uma relação mais próxima entre professores e estudantes”, explica Marcela Rangel, coordenadora pedagógica do Instituto Dom Barreto. No colégio, as classes nunca recebem mais de 35 estudantes. No Santa Maria Goretti, o limite é de 25.

Essa realidade, porém, não é reproduzida na rede pública. E o reflexo pode ser visto pelas estatísticas de entrada na principal universidade pública do Estado, a UFPI. Na instituição, os alunos cotistas (que cursaram toda a educação básica em escolas públicas ou com bolsas) ocupam apenas 16% do total de 18.500 vagas. Para Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), a dubiedade do Piauí coloca em evidência um problema antigo que não vem sendo sanado pelo Enem: a desvantagem dos alunos das escolas públicas na disputa por uma vaga. “Ao se colocar como um vestibular nacional, ele explicita ainda mais esse problema.” Na visão do governo, porém, o exame nacional é o caminho. “Enquanto a iniquidade for grande, os jovens de classe média terão vantagem, mas o trabalho do governo é reverter essa situação”, disse à ISTOÉ a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar.
Enquanto não se conquista mais igualdade nas condições de acesso ao ensino universitário, o incômodo é partilhado até mesmo por quem está no topo do ranking. “Antes de sermos empreendedores na área de educação, somos educadores”, diz Dalton Leal, diretor pedagógico no Educandário Santa Maria Goretti. “O Piauí é um Estado que precisa evoluir muito socialmente e a única maneira de isso acontecer é por meio da educação, que precisa ser de boa qualidade e para todos.” 

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