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A recente chegada de carros chineses ao mercado brasileiro provocou enorme desconforto na indústria nacional. Com preços mais baixos do que os da concorrência e com um cartel de opcionais superior ao dos rivais, os automóveis fabricados na Ásia passaram a conquistar o espaço cativo das grandes montadoras que tradicionalmente dominam o setor. Nos oito primeiros meses de 2011, a venda de automóveis de origem chinesa quase triplicou – e isso apesar de problemas de acabamento e de dúvidas quanto à durabilidade dos veículos. O Jac J3 é o exemplo mais impressionante desse avanço. Ele já ocupa o terceiro posto na sua categoria (modelo hatch), atrás apenas do Chevrolet Corsa e do Renault Clio. Na semana passada, esse fenômeno sofreu um duro golpe. O governo anunciou um aumento de 30 pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros importados (à exceção dos que são feitos no Mercosul e de alguns modelos vindos do México, mas fabricados por empresas que mantêm plantas no Brasil). A medida favorece claramente as líderes Fiat, Volks­wagen, General Motors e Ford, donas de 70% das vendas nacionais.

Para justificar o aumento da mordida tributária dos importados, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o objetivo do governo é melhorar a competitividade do produto brasileiro e estimular a produção interna. A questão não é só essa. Dados da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva) indicam que, de janeiro a agosto, as vendas no Brasil de carros fabricados no Exterior aumentaram 112% – enquanto o emplacamento de carros feitos por aqui avançou cerca de 10%. Para o presidente da entidade, José Luís Gandini, que também comanda a Kia no Brasil, o pacote é resultado do “forte lobby das grandes montadoras”. De fato, a medida protecionista significa um retrocesso que faz lembrar os anos sombrios do passado recente, quando os carros brasileiros eram “verdadeiras carroças”, para usar uma expressão do ex-presidente Fernando Collor. Além de favorecer os consumidores, que têm acesso a produtos mais baratos, os carros importados acabam por estimular a própria indústria nacional, forçando-a a se modernizar. É esse ciclo que não se deve interromper.

30% é quanto deve aumentar o preço, em média,
de carros importados vendidos no Brasil