Mais um grande festival de cinema torna-se remoto e ganha versão online. Um dos criadores e principais mantenedores do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, Francisco César Filho, resume: “Além de toda dificuldade causada pela pandemia, houve também o problema do patrocínio. O ano está sendo difícil para todo o mundo, não está sendo exceção para o nosso evento.” A 15ª edição ficou mais compacta – “São 36 filmes, contra os mais de 100 de anos anteriores, mas o que posso dizer é que chegamos a uma seleção muito depurada e essencial.”

A organização chegou a pensar em algumas sessões presenciais, no drive-in do Memorial da América Latina, mas optou pela versão remota. O festival ocorre desta quarta-feira, 9, até 16, de forma totalmente gratuita, pelas plataformas Looke, Sesc Digital e Spcine Play. Todos os filmes estarão disponíveis a partir das 20 h de quarta até o encerramento, ou até que seja atingido o limite de visualizações acordado com os produtores e distribuidores dos filmes. Chiquinho destaca o foco na produção da América Central e do Caribe, com cinematografias emergentes como Costa Rica, Honduras e El Salvador. Cuba tem sido uma parceira importante ao longo desses 15 anos e estará representada.

Com tantos festivais online pipocando pelo País, Chiquinho destaca a participação do cinema brasileiro. “Temos cinco inéditos nacionais, que eu tenho certeza que vão incrementar o debate sobre o Brasil de 2020. A crise não é só sanitária, e todo mundo sabe disso”, afirmou. Além dos brasileiros, a mostra Contemporâneos contempla dez filmes internacionais, também inéditos. E a par do Foco América Central, há a homenagem BrLab 10 Anos, com longas que estiveram em diferentes seções do laboratório de desenvolvimento de projetos. O festival sempre reverenciou nomes importantes da produção latina, que vieram como convidados e participaram de debates muitas vezes antológicos. O bom dessa edição é que, por ser online, ela ultrapassa os limites de São Paulo e poderá ser acessada, nas plataformas, de todo o Brasil.

“O Festival Latino torna-se nacional, e isso é motivo de muita alegria para a gente”, ressalta Chiquinho. “Vamos ver como as demais praças vão reagir ao apelo de cinematografias que serão verdadeiras descobertas.” Entre os encontros e debates pela internet, Chiquinho destaca o que vai reunir o animador gaúcho Otto Guerra e o autor baiano Edgar Navarro. Transgressores por natureza, prometem uma live muito franca e reveladora sobre seus filmes libertários.

Contemporâneos contempla filmes da Argentina (Os Errantes e Os Segredos do Armário), Chile (Harley Queen), Colômbia (Retratos de Reconciliação), Equador (Killa e Llanganati), México (Desenho Contra as Armas), Paraguai (Aio, Somos Memoria, Temos Lembranças), Peru (A Migração),Panamá e Venezula (Morte em Berruecos). Premiado em Mar del Plata, A Migração é assinada pelo diretor agentino radicado no Peru, Ezequiel Acuña. Mostra músico de jazz à procura de amigo que desapareceu. José Eduardo Alcazar assina o longa paraguaio – é conhecido do público do festival por O Amigo Dunor, US/Nosotros e 3-1=2 Rodando. A dupla Carolina Adriazola e José Luís Sepulverda, de Harley Queen, sobre mulher da periferia de Santiago que sonha com o próprio empoderamento, é responsável pelo Festival de Cine Social e Anti-social do Chile, evento que tem crescido em prestígio, até por confrontar o país com uma realidade baseada numa desigualdade. Cineasta indígena equatoriano, Alberto Muenella conta, em Killa, a história de amor de uma jornalista e um fotógrafo, em meio a perseguição e racismo. A estreante argentina Irene Franco enfoca casal numa plantação de erva mate da fronteira com o Brasil em Os Errantes. A ambientação já sediou clássicos como Selva Trágica, de Roberto Farias, e o muito bom Os Matadores, de Beto Brant.