À primeira vista, parece o ritual de um regime que caminha a passos largos para se transformar numa ditadura. O presidente Hugo Chávez, que já controla 22 dos 24 governos estaduais e tem maioria no Tribunal Supremo de Justiça e no Conselho Nacional Eleitoral, obteve a façanha de conquistar todas as 167 cadeiras da Assembléia Nacional, o Parlamento unicameral da Venezuela, nas eleições legislativas de domingo 4. A razão principal foi o boicote da oposição, capitaneada pelos dois partidos tradicionais do país, a Ação Democrática e o Copei. Para piorar, a taxa de abstenção foi uma das mais altas da história venezuelana: 75% dos eleitores deixaram de votar. Mas a lisura das eleições foi atestada pela União Européia e pela OEA.

Os oposicionistas diziam que as urnas eletrônicas, ao registrarem as impressões digitais dos eleitores, violavam o segredo do voto. Pressionado, o Conselho Nacional Eleitoral fez as modificações exigidas, mas os antichavistas mantiveram o boicote. O motivo, segundo analistas, é que AD e Copei dificilmente elegeriam mais de 20 deputados.

Na verdade, os antichavistas, mais uma vez, não aprenderam com os erros do passado. Em 2002, apoiaram um golpe fracassado e em 2004 apostaram num referendo para revogar o mandato de Chávez. Agora, na tentativa canhestra de deslegitimar o presidente – que se mantém no poder com eleições, referendos e benesses aos pobres graças aos altos preços do petróleo –, perderam mais espaço político. Chávez agradece.


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