Na semana passada, o professor Chico Lopes, que libertou o Brasil de um câncer, foi condenado em segunda instância. Sua pena caiu de dez anos, em regime fechado, para seis anos, de forma semi-aberta. Para quem não se lembra, foi ele quem, em janeiro de 1999, chutou para longe a desastrosa âncora cambial – de forma atrapalhada, é verdade, mas necessária. No calor dos acontecimentos, o Banco Central teve de vender dólares abaixo do teto da banda cambial para dois bancos: o Marka e o Fonte-Cindam. E o que se alegou à época? Que estes dois bancos, os únicos que apostavam a favor do real, recebiam informações privilegiadas da equipe de Chico Lopes.

Era um argumento que desafiava a própria lógica, pois ninguém usa inside information para quebrar, mas, da noite para o dia, o respeitado professor da PUC do Rio de Janeiro passou a ser pintado como um criminoso. À época, o então presidente do PT, Tarso Genro, iniciou a campanha "Fora FHC".

Desde então, começou o calvário do professor. Procuradores no seu encalço, bens bloqueados e clientes da tradicional consultoria Macrométrica retraídos. Veio o processo e dezenas de economistas, das mais variadas tendências, foram chamados a opinar sobre a decisão tomada não apenas por Chico Lopes, mas também por dois outros respeitados diretores do Banco Central: Cláudio Mauch e Demóstenes Madureira, que hoje enfrentam os mesmos problemas judiciais. Todos, à exceção de Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, disseram que havia, sim, risco sistêmico. Até mesmo Carlos Lessa, um dos luminares da esquerda brasileira, testemunhou a favor de Chico Lopes. Sem a intervenção do Banco Central, diziam os economistas, o Marka e o Fonte-Cindam não teriam conseguido honrar suas posições na Bolsa de Mercadorias & Futuros, quebrando o mercado brasileiro. A atual BM&F Bovespa, que recentemente captou bilhões lançando suas próprias ações, talvez não existisse hoje.

Passaram-se quase dez anos e o mundo vive uma nova crise financeira. Alega-se a existência de risco sistêmico. Vários países tomaram providências, bancos foram negociados na calada da noite e, aqui mesmo no Brasil, diversas medidas provisórias foram editadas. Hoje, com muito menos transparência, o governo do próprio PT pode comprar carteiras de crédito e até mesmo ações de construtoras, sem dar satisfações ao público. Se aplicassem aos poderosos de hoje o mesmo rigor de 1999, estariam todos presos – incluindo os que atiraram Chico Lopes na fogueira.