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O medo de um calote da dívida grega e de um agravamento da crise na Europa empurrou o dólar acima de R$ 1,70 pela primeira vez neste ano, com alta de quase 2% ante o real. A moeda americana fechou a R$ 1,7095 para venda no mercado à vista, com alta de 1,93%. É a maior cotação de fechamento desde 17 de dezembro. Foi o oitavo dia seguido de valorização do dólar em relação ao real, e a maior alta diária desde 10 de agosto.

A alta do dólar foi generalizada nos mercados internacionais, com intensidade especial sobre moedas de países emergentes – como o México – ou de países exportadores de commodities – como o dólar australiano. Os dois perfis, nos quais se encaixa o real, são considerados de maior risco e sofrem quando investidores saem em busca de proteção.

A maior preocupação do mercado é com a possibilidade de um calote da Grécia, que poderia desestabilizar a zona do euro. O país tem dinheiro para financiar suas necessidades apenas até outubro, segundo o vice-ministro das Finanças, e as negociações com os credores internacionais sobre a liberação de outra parcela da ajuda emergencial será retomada somente nesta segunda-feira, após dias de impasse sobre o descumprimento de metas fiscais.

Na França, ações de bancos despencaram com o temor de um rebaixamento da nota de crédito das instituições pela agência Moody’s, por causa da exposição de suas carteiras à dívida grega. O ministro das Finanças da França, François Baroin, tentou acalmar os investidores dizendo que os bancos do país podem suportar qualquer crise na Grécia.

O euro, principal foco da crise, era cotado perto de US$ 1,36, 9 centavos – ou cerca de 6% a menos – do que há apenas dez dias. No mesmo período, o dólar subiu cerca de 7% em relação ao real.

No Brasil, operadores relataram a execução de ordens de "stop-loss", nas quais os investidores reduzem posições para se proteger da volatilidade do mercado. De acordo com o diretor da corretora Pioneer, João Medeiros, exportadores que poderiam se beneficiar da alta do dólar preferiam esperar antes de ir a mercado para vender moeda estrangeira. "Os grandes exportadores com quem falo aqui me dizem que, a menos que precisem efetivamente de dinheiro, ele não vai vender os dólares dele. (Dizem:) ‘prefiro vender o dólar a R$ 1,50 com expectativa do que vender a R$ 3 sem saber o que vai acontecer amanhã’", afirmou Medeiros.

Os investidores estrangeiros continuam a reduzir as posições vendidas líquidas em dólar na BM&FBovespa para diminuir a exposição ao cenário de maior volatilidade cambial. Com posições compradas em dólar futuro e vendidas em cupom cambial (DDI), os investidores não-residentes tinham na sexta-feira posição vendida consolidada de US$ 12,38 bilhões, a menor desde 21 de março.

A taxa Ptax, calculada pelo Banco Central (BC) e usada como referência para os ajustes de contratos futuros e outros derivativos de câmbio, fechou a R$ 1,6899 para venda, em alta de 0,75%. Apesar da volatilidade do dólar, o BC manteve o padrão recente de intervenções, com um leilão de compra de dólares no mercado à vista. A taxa de corte foi de R$ 1,7150.