i75939.jpgA advogada Heloísa Garcia, 31 anos, esposa do delegado Protógenes Queiroz, diz que jamais vai esquecer as cenas de pavor que viveu quando quatro policiais armados com pistolas Glock, com uniforme de guerra, entraram em seu apartamento, na madrugada da quarta-feira 5. "Tive de abrir a porta de camisola", diz Heloísa. "Meu sentimento foi de invasão, como se tivesse sido violentada." Não lhe permitiram usar o telefone. Seu filho de sete anos ficou traumatizado. "Isso para mim é ditadura", diz a advogada. Os policiais abriram sua bolsa e levaram o pen drive, computador pessoal, chip da máquina fotográfica e celular. No mesmo dia que invadiu a casa de Protógenes, a PF também revistou a sede da Abin em Brasília e as subsedes no Rio de Janeiro e São Paulo. Os responsáveis pela Operação Satiagraha passaram de investigadores a investigados. Depois que ISTOÉ revelou a presença do espião do extinto SNI Francisco Ambrósio do Nascimento dentro da PF, a apuração de vazamento e grampo ilegal identificou 70 agentes da Abin que participaram do inquérito, abrindo uma grave crise nos órgãos de inteligência.

"Tudo isso beneficia o Estado de direito. Se o Daniel
é beneficiado, é um benefício indireto"

Nélio Machado, advogado de Daniel Dantas

Aos poucos, a Satiagraha transformase em guerra judicial, em que todos os atores envolvidos buscam brechas nos tribunais para corrigir seus erros. Protógenes, ameaçado pela PF, reivindica seus direitos; a Abin quer impedir o acesso a documentos apreendidos e o banqueiro Daniel Dantas pede a anulação de todas as provas contra si. Todos os personagens têm munição farta. A PF teve acesso ao banco de dados de Protógenes, incluindo fotografias de uma mulher loira que estaria na reunião entre os advogados de Dantas e os assessores do presidente do STF, ministro Gilmar Mendes. A PF quer saber se Protógenes fez investigação fora do inquérito, com dinheiro também de fora da corporação, o que engrossaria a lista de crimes nos quais o delegado pode ser indiciado.

Em São Paulo, a nova equipe da Satiagraha tenta levantar provas que envolvem Dantas na lavagem de dinheiro em venda de gado no Pará e no suborno aos delegados. "Tudo isso beneficia o Estado de direito. Se o Daniel é beneficiado, é um benefício indireto." Heloísa, a esposa do delegado, desconfia de uma conspiração a favor do banqueiro.

No governo, a briga entre PF e Abin chegou ao Planalto. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Armando Félix, enviou ofício ao ministro da Justiça, Tarso Genro, dizendo que não era necessário pedido de ordem judicial para exame de documentos da Abin. O general adverte para a existência de "documentos reservados", que "nada têm a ver com as investigações" e recomenda a presença de agente da Abin na abertura dos lacres. O pedido foi aceito por Genro. Félix esteve na Abin, segundo fontes, e disse que a PF sabe quem fez o grampo ilegal e quem vazou para a imprensa.