Sobre Michael Jackson: não consegue ser o maior hit nem mesmo na lista dos escândalos mais procurados da internet. A grande campeã de audiência é Paris Hilton. É possível que no Brasil poucos a conheçam, embora seu sobrenome esteja nas marquises dos hotéis nas principais cidades do País. Paris é a herdeira do império Hilton, conglomerado de turismo no valor de US$ 3,8 bilhões. Mas sua fama maior no mundo vem mesmo da sucessão de escândalos que esta loira de 22 anos vem promovendo com afinco há cerca de meia década. A última performance nesta linha é o vídeo pornô em que Paris aparece fazendo o diabo entre os lençóis de um quarto de cassino de Las Vegas (será da linha Hilton?). O teipe está à disposição da curiosidade pública na internet e é considerado o número 1 de procura pela lista Lycos – espécie de parada de sucessos da rede de computadores no mundo. Isso, na mesma semana em que a mocinha estréia um reality show – daqueles que as câmeras a seguem 24 horas por dia – intitulado Surreal life (apropriadamente: vida surreal) na emissora americana Fox. Há esperanças de muitos pontos de Ibope nesta empreitada, o primeiro trabalho assalariado da menina; mas certamente não alcançará público tão espetacular quanto sua prodigiosa interpretação na cama.

Nas redações de jornais e revistas, casas de família, quartos de adolescentes, de Jacarta a Nova York, o vídeo em preto-e-branco, granulado, mal iluminado e com paupérrima definição, é considerado a sensação do momento. Por meros US$ 4, é possível se assistir à convincente imitação de Linda Lovelace – aquela do pornô Garganta profunda – feita por Paris. “Não se fala de outra coisa”, atesta Richard Johnson, do diário New York Daily News, que em sua coluna Page 6 dita os modismos da cidade. Johnson, é bom lembrar, dedica grande parte de suas atividades de fofoqueiro às irmãs Hilton. Paris faz dupla com a mana Nicky, caçula da família, com 20 anos. É bom que se diga que Nicky ainda não tem filminho de sacanagem solto na internet, mas seus escândalos rivalizam com os da irmã. E essa competição de malcriações é o único motivo da fama obtida pelas duas moças. “Elas não trabalham, não dançam, não cantam, não sapateiam. As pessoas se perguntam qual a razão pela atenção dada a estas irmãs”, diz Robert Thompson, professor de pop culture da Syracuse University. Bem, além dos US$ 3,8 bilhões, as Hilton também recebem uma herança familiar de desafio às convenções. Por exemplo: seu avô Conrad Hilton Jr. foi o primeiro marido de Elizabeth Taylor – e o primeiro divórcio da atriz, que enfileirou oito separações legais em sua vida. “Aquele foi um matrimônio do dinheiro com a beleza”, diz Andrew Jackson, veterano cronista da vida em Hollywood. “Desde o início, ficou claro para todos que a jovem Elizabeth, uma espécie de namoradinha dos Estados Unidos, estava sendo comprada pela fortuna Hilton. Foi um verdadeiro escândalo”, diz.

O patriarca da fortuna, Conrad Hilton, também não estava livre de pecadilhos. Ele montou seu negócio alugando quartos, que poderiam ou não ter o room-service de garotas de programa. A história mostra que Conrad, na verdade, dirigia uma espécie de bordel. Com avô deste quilate, as irmãs Paris e Nicky somente seguiram um padrão familiar. E o fizeram con gusto. Com 19 anos, Paris foi à boate Studio 54, onde subiu ao balcão do bar e alegrou a freguesia com um show de dança topless. Ela já havia estabelecido carreira como habitué das casas noturnas do eixo Nova York–Los Angeles e no Hamptons, a colônia de férias dos super-ricos. “Usando cintos em vez de saias, a moça foi logo notada”, diz o colunista Johnson. Tendo Nicky, então com 16 anos, a tiracolo, Paris abusava dos trajes ultra-ousados. Suas saias poderiam ter sido embaladas em biscoitos da sorte chineses, de tão minúsculas que eram. Os paparazzi foram à loucura.

Em setembro de 2000, depois de um affair explícito com o ator Leonardo DiCaprio, Paris mereceu matéria especial na revista Vanity Fair, bíblia das celebridades. O retrato pintado ali – com ilustrações cheias de seios à mostra – era o de duas meninas ricas e absolutamente bagaceiras. “O que encanta as pessoas é ver duas milionárias, que deveriam ser exemplos de bom comportamento, vivendo como porno-stars. São espécies de maloqueiras cheias de dinheiro”, diz o professor Thompson.

“Aos 15 anos, eu não tinha bustos desenvolvidos. Era uma tábua. Não deixava ninguém ver ou tocar meus seios. Depois eles encheram e se tornaram bem atraentes. Aí, não tive mais receio de mostrá-los”, confessa Paris. E no filme que está em cartaz na internet é possível notar bem estas dimensões. A performance na cama, apesar da péssima qualidade técnica do vídeo, mostra também que, mesmo aos 19 anos, Paris tinha experiência de gente grande. Mas sabe como são os pornôs caseiros… estão sempre cheios de defeitos. No meio da refrega, o celular de Paris começa a tocar. Seu coadjuvante – o então namorado Rick Salomon – diz: “Fuck your phone!” Paris perpetra um coitus interruptus para desligar o telefone. Nota-se, durante o espetáculo, que ela namora muito mais com a câmera do que com Rick. Também, o que esperar de uma garota que há dois anos provocou a fúria de uma fila de banheiro numa boate, passando na frente de quem esperava pacientemente, entrando no toalete e se justificando: “Eu tinha urgência em me olhar no espelho.”

A família Hilton divulgou agora uma nota dizendo que “esta é uma obra íntima, para ser vista apenas pelas pessoas envolvidas”, o que na verdade apenas atesta a veracidade do produto. Rick Solomon está movendo ação por difamação, alegando que foi desrespeitado pelos Hilton. Paris, no entanto, segue sua carreira nas telinhas com Surreal life. E já aprendeu valiosa lição. “Eu tinha de trabalhar o dia inteiro para ganhar US$ 45. Depois, à noite, ia jantar no Ivy (carésimo restaurante de Beverly Hills) e gastava US$ 200. Passei a dar valor àqueles que têm de trabalhar para pagar por sua comida”, disse. Não lhe ocorreu, porém, que se passar a vender o vídeo pornô onde estrelou não terá mais problemas com as contas do Ivy. É capaz de suplantar a fortuna amealhada pelo bisavô Conrad. Como ele provou há anos, sexo dá dinheiro.