Janeiro de 2000. Steve Case, então presidente da America Online, provedor de acesso à internet dos Estados Unidos, era saudado como o mentor do maior negócio da história do capitalismo. Em uma jogada de mestre, ele arrematou por US$ 184 bilhões a Time Warner, um dos maiores conglomerados
de comunicação do planeta. Na época, Case era o legítimo representante do grande triunfo da internet sobre a economia tradicional. Foi uma verdadeira subversão da escala de valores: uma companhia que mal havia completado 15 anos acabava de adquirir a centenária Time Warner. Nascia um gigante, avaliado em mais de US$ 300 bilhões.

Janeiro de 2003. Em meio a uma avalanche de críticas de acionistas, queda de 70% nos preços das ações e acirradas brigas pelo comando da AOL Time Warner,
Case é forçado a pedir demissão e marca para maio sua saída definitiva do posto de presidente da companhia. No comunicado, feito através
de uma carta enviada aos diretores da AOL, o executivo diz que
gostaria de continuar na presidência, mas optou por sair para
atender aos reclamos dos acionistas.

Case, um havaiano de 44 anos que começou a trabalhar ainda jovem como gerente da Pizza Hut, teve uma carreira meteórica. Em 1985, fundou a Quantum, uma pequena empresa de internet que, seis anos
mais tarde, passaria a se chamar AOL e se transformaria no maior provedor de acesso à rede do planeta. Antes da fusão milionária,
Case fazia parte do seleto grupo de estrelas que ascendeu com o crescimento vertiginoso da internet. Jamais imaginaria que, hoje, a sua AOL seria vista pelos analistas como um peso morto arrastando para baixo a Time Warner. E mais: sua demissão transfere para as mãos dos executivos da Time Warner, que vinham responsabilizando-o pelos fracassos da fusão, o comando da companhia.

Desemprego – Praticamente desempregado (vai assumir um cargo sem nenhum poder), Case vive seu ocaso. E, para piorar, corre o risco de sua situação complicar-se caso sejam confirmadas as denúncias de fraudes contábeis na AOL durante sua gestão. O péssimo momento vivido pelo executivo pode acabar repercutindo negativamente no braço latino-americano da companhia, a Aola, uma associação com o grupo venezuelano Cisneros que reúne empresas no Brasil, Argentina, México e Porto Rico. Uma declaração do diretor financeiro da Aol Time Warner, Wayne Pace, no final do ano passado, quando ameaçou deixar a região caso a Aola não encontrasse o caminho do lucro, deixou os executivos brasileiros de cabelo em pé. Como Case era uma espécie de padrinho da empreitada na América Latina, seu enfraquecimento soa como um mau sinal para toda a operação latino-americana.

O porta-voz da Aola, Fernando Figueiredo, jura que não há nenhuma possibilidade de a empresa encerrar suas atividades no Brasil ou em outro país da região. Até porque, diz ele, a operação vem diminuindo seus prejuízos há nove trimestres consecutivos e tem compromissos a cumprir com seus sócios – o grupo Cisneros e o Itaú. O último aporte na Aola, de US$ 160 milhões, aconteceu em março, como um financiamento da matriz. Ficou acertado que serviria para cobrir os gastos até o início de 2003, mas, devido ao atual momento, o uso do capital será esticado até o final de 2003. “Vamos continuar diminuindo as perdas para atingir o ponto de equilíbrio antes do previsto”, diz Figueiredo.

Independentemente das justificativas, o fato é que já foram
enterrados na América Latina mais de US$ 600 milhões desde o início
das operações e o número de assinantes nesses pouco mais de três
anos de atividade não passou de 1,2 milhão.

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Lançada em novembro de 1999, a Aol Brasil chegou ao País com a fama de que iria estraçalhar a concorrência. O provedor acabou patinando e tropeçando em suas próprias pernas. Francisco Loureiro, presidente e responsável por toda a estratégia brasileira, acabou sendo demitido 15 dias após a festa de lançamento. Os CDs com os softwares para conexão também tiveram problemas. Alguns simplesmente vieram com músicas de pagode. “Foi um caos”, lembra um analista que prefere o anonimato. Agora, com a demissão de Case, a situação pode ficar pior.


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