Presidentes de empresas multinacionais raramente admitem que foram demitidos – ou são afastados ou destituídos, como ocorre agora com o presidente da Volkswagen do Brasil, Paul Fleming. Nos corredores da fábrica, em São Bernardo do Campo, a boataria sobre seu afastamento corria solta há alguns dias, ao contrário do mercado, surpreso com sua passagem de apenas um ano e um mês no comando das atividades no Brasil. O inglês Paul Fleming, 43 anos, será substituído pelo alemão Hans-Christian Maergner, 58 anos, atual diretor-gerente da unidade da África do Sul, a partir de 1º de janeiro. Ainda não disseram onde Fleming será recolocado no grupo, mas sua queda, como a de um técnico de futebol depois de uma derrota, foi surpreendentemente rápida para os padrões da própria Volkswagen. Nem o sul-africano Noel Phillips, uma geladeira que chegou em 1989 e só disseminou antipatia, caiu tão depressa. Foram três anos de mau humor – Phillips parecia detestar o que fazia, mal aprendeu falar bom dia em português e acabou sendo despachado do Brasil.

Fleming experimenta agora a humilhação de ter se tornado dispensável, exatamente como fez em seu plano de reestruturação da operação brasileira ao tornar dispensáveis quase quatro mil empregos de um total de 24.500. A operação foi um fiasco. Até agora a empresa não conseguiu concluir o processo de dispensa e recolocação de 3.933 trabalhadores das fábricas de São Bernardo do Campo e Taubaté. Para fechar o acordo com o sindicato, a montadora ofereceu o pagamento de salários até 2006 para os funcionários que deixarem a empresa agora, um total de 1.300 pessoas. Enquanto greves aconteciam em várias fábricas brasileiras do grupo, a matriz esperneava com o custo das demissões – cerca de 120 milhões de euros – e com o peso desse dinheirão nas contas totais do terceiro trimestre, risco que a matriz já havia alertado, inclusive com o adendo de que pesaria também no conjunto do segundo semestre.

A maior montadora européia vive aqui o pior momento de sua história. Ocupa o terceiro lugar nas vendas (depois de Fiat e GM), e não tem modelos novos a oferecer, principalmente para a classe média, diz José Lopes Feijoó, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. “Os erros não são de Fleming, e sim da matriz, que mantém uma política de investir em novas fábricas em prejuízo do produto.” Ele mesmo pergunta: “O que é o Golf senão um Gol com F e mais alguns complementos.” Alguns companheiros de Fleming falam que ele não teve força para assumir o desafio que lhe foi posto: fazer do novo compacto mundial Fox um sucesso e levar a subsidiária de volta ao lucro até o final de 2004. Como um time de futebol que perde e o dirigente prefere trocar o técnico, o executivo inglês foi eleito a vítima. Mesmo porque a Volks matriz já espera que seu lucro caia mais da metade este ano por causa da fraca demanda, do fortalecimento do euro e dos problemas no Brasil. “É uma boa troca”, diz um executivo da VW, com o compromisso de não ser identificado. “Entra um alemão com 30 anos na empresa e que em seis anos levantou a subsidiária da África do Sul, tem a cultura da matriz e – o que faltou a Fleming – experiência.