chamada.jpg
BRASÍLIA
Protesto com endereço

A tradicional parada militar de 7 de Setembro, Dia da Independência, foi ofuscada este ano pela Marcha contra a Corrupção, que levou à Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e às ruas das principais capitais do País uma multidão formada por jovens e adultos de classe média. O protesto foi espontâneo e apartidário. Sem lideranças de movimentos sociais ou partidos políticos, mais de 30 mil pessoas participaram da manifestação pacífica pelo Brasil afora, trocando o Grito do Ipiranga pelo clamor por uma faxina ética. A mobilização começou nas redes sociais da internet e aos poucos ganha ares de fenômeno popular – como os que são vistos em países da Europa e do Oriente Médio e até mesmo no Chile. Entusiastas da iniciativa garantem que esse foi o primeiro passo e preparam novo protesto para o feriado do dia 12 de outubro, que também cai numa quarta-feira. O alvo é essencialmente a classe política, cuja reputação foi por água abaixo diante dos recentes escândalos de corrupção.

Segundo participantes da marcha, o estopim para o sucesso do protesto foi a decisão da Câmara de livrar da cassação a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada recebendo dinheiro do mensalão do DEM. Cartazes como “País rico é país sem corrupção”, que parafraseava a propaganda oficial, acompanhados de baldes e vassouras, viraram divertidas ferramentas nas mãos dos manifestantes. “Esta vassoura não é do Jânio Quadros nem da Dilma. É de todos nós”, disse Charles Guerreiro, 42 anos, às portas do Ministério da Agricultura. Entre as muitas reivindicações houve até quem pedisse a renúncia do presidente da CBF, Ricardo Teixeira.

Mas se a pauta do movimento mostra-se ampla, é justamente a falta de um foco específico que pode levar ao seu esvaziamento. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) acha necessário eleger princípios. O professor de ética da Unicamp Roberto Romano alerta que existe uma distância imensa entre gritar contra a corrupção e acabar com ela. Sem consistência, o movimento corre o risco de se tornar mero modismo. Vale lembrar que alguns fenômenos espontâneos na história recente do Brasil serviram para o bem, caso do impeachment de Collor e da iniciativa popular que deu origem à Lei da Ficha Limpa. Mas houve também exemplos para o mal. Afinal, foram de geração espontânea a onda udenista que garantiu a eleição de Jânio Quadros e, mais tarde, a ultraconservadora Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que sustentou o Golpe Militar de 1964.

img.jpg