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DE OLHO
Óculos de visão noturna dependem de substâncias como o lantânio e o
gadolínio, encontráveis no País, que não deve se limitar a apenas extraí-los

O motor que impulsiona o limpador de para-brisa do seu carro, seu smart­phone, a proteção de raios infravermelhos presente nos óculos escuros e na garrafa de vinho. Tudo isso – e mais uma infinidade de produtos que incluem até mesmo mísseis teleguiados – só existe graças a um grupo de minerais conhecidos como terras raras. Esses metais, que, apesar do nome, são muito comuns, compõem um grupo de 17 elementos na tabela periódica com alcunhas tão incomuns como samário, praseodímio, disprósio e gadolínio. São pouco conhecidos em parte porque, na maioria das aplicações, são usados em quantidades muito pequenas. Mas a supercondutividade desses elementos tornou possível, por exemplo, a miniaturização dos eletrônicos. Não à toa, o mercado mundial dos lantanídios, como também são chamados, gira em torno de US$ 5 bilhões anuais.

A produção crescente de máquinas “ecologicamente corretas”, como turbinas eólicas e carros híbridos, e o aumento do rigor nas leis ambientais estão fazendo mais gente se preocupar com as terras raras. Com 36% das reservas conhecidas, a China responde por 97% do fornecimento, mas os números estão caindo. “O governo chinês está engajado na proteção ambiental e no combate às mineradoras ilegais”, disse à ISTOÉ Chen Zhanheng, diretor da Sociedade Chinesa de Terras Raras. Além disso, a maior demanda interna faz a China diminuir exportações. Tudo isso fez os preços disparar.

Problema para muitos, oportunidade para o Brasil, que pode ter uma reserva ainda maior que a dos chineses. O serviço de pesquisas geológicas dos EUA (USGS, na sigla em inglês) estima que as jazidas brasileiras podem fornecer até 3,5 bilhões de toneladas dos lantanídios – o nome faz referência ao primeiro elemento do grupo, o lantânio. Segundo Fernando Landgraf, diretor de inovação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), existem pelo menos dez projetos de exploração desses minerais em andamento no ­País. No entanto, é impossível estimar a viabilidade econômica deles, porque os preços atuais são, em sua opinião, “irreais”. “Ninguém sabe em que nível eles vão se estabilizar.” Ele cita o exemplo do neodímio, uma das terras raras mais usadas para superimãs. Em janeiro de 2009, o mineral custava US$ 15 por quilo. Agora, chega aos US$ 300.

Algumas jazidas conhecidas estão nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo. Mas há projetos até mesmo no Amazonas. A empresa CPRM Serviços Geológicos do Brasil, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, começou a executar neste ano um estudo para identificar novas áreas do território brasileiro em que pode haver terras raras. Com duração prevista de três anos, deve receber investimentos de R$ 2,4 milhões apenas em 2011.

Ironicamente, é impossível produzir alguns produtos “verdes” sem os lantanídios, que são obtidos com processos extremamente poluentes e liberam até mesmo materiais radiativos como urânio e tório. Além das baterias dos carros híbridos e turbinas eólicas, as terras raras são essenciais, por exemplo, na fabricação das lâmpadas de LED, mais econômicas que as fluo­rescentes. A entrada brasileira nesse mercado, porém, não precisa ser como mero exportador desses minerais, afirmam especialistas. “Dá para ganhar dinheiro só com mineração, mas o ideal é fazer a cadeia produtiva inteira, da mina até a produção de bens”, diz Landgraf. Se o Brasil não aproveitar essa chance, estará perdendo uma oportunidade muito mais rara que essas terras.  

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