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A Miss Argentina Natalia Rodriguez: e gestos ensaiados

Linda, linda!
Derrete-se um jornalista latino-americano que está cobrindo o primeiro Miss Universo realizado no Brasil. A linda a qual ele se refere é Alyssa Campanella, a Miss Estados Unidos, um dos rostos mais perfeitos da competição. Na sequência, durante um evento realizado cinco dias antes da grande noite que premiará a mulher mais bela do mundo, ele se volta para uma colega ao lado e pergunta baixinho:
– Ela está anoréxica, né?

Alyssa, uma das 89 misses que disputam a coroa universal na noite da segunda-feira 12, em São Paulo, é, de fato, uma das mais magras da competição. E a reação do profissional é uma pequena amostra do comportamento de todos que acompanham o evento, de missólogos internacionais a jornalistas perdidos diante de tantas beldades. Em frente às belas, todos são suspiros e exclamações. Nas costas, e também nos sites e blogs dedicados ao tema, não faltam comentários ácidos sobre penteados, figurinos e sorrisos falsos.

A Miss Brasil, a gaúcha Priscila Machado, que o diga. “Não é das mais simpáticas”, confidencia, sussurrando, um brasileiro que acompanha concursos de beleza desde criança. Nos fóruns, a anfitriã é das mais criticadas. “Estou muito feliz por representar meu país justamente quando o concurso é aqui e bem no aniversário de 60 anos do Miss Universo”, afirma uma sorridente Priscila, a despeito da torcida contra. Se a gaúcha não é tão calorosa como se esperava de uma brasileira, a Miss França, veja só, transborda simpatia. A parisiense Laury Thilleman dá atenção a cada um que se dirige a ela e jura que a blasé França torce por sua vitória. “Estou bem famosa por lá”, diz, num charmoso inglês afrancesado. Este Miss Universo é, definitivamente, um balde de água fria nos estereótipos.

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COLÍRIO
Priscila Machado, a Miss Brasil.

Criado há seis décadas na Califórnia (leia quadro), o concurso é realizado em um país diferente a cada ano. A organização é feita pela rede de televisão americana NBC em parceria com a empresa do americano Donald Trump. Quem trouxe o Miss Universo para o Brasil foi a Band, que fará a transmissão nacional no dia da premiação. Apesar de todo o aparato e do investimento de R$ 35 milhões da emissora, do lado de fora do Hotel Hilton de São Paulo, onde elas estão hospedadas, e longe do Credicard Hall, palco da competição, pouca gente sabe que elas estão por aqui. “Achei estranho não ver nenhum banner anunciando o concurso quando cheguei”, conta Hector Joaquin, um porto-riquenho que mantém um blog no qual conta todos os detalhes da competição. Sua percepção, entretanto, não é equivocada. Longe de ser uma atração com o peso da Copa ou dos Jogos Olímpicos, o Miss Universo diverte, mas não monopoliza atenções na cidade-sede. A movimentação se dá entre aqueles que admiram o “universo miss”. Além, é claro, das próprias candidatas. Alyssia, a americana, acredita que, se vencer, poderá ajudar a economia de seu país. Já a imponente Luo Zilin, tão gigante quanto sua nação, a China, é uma das favoritas.

Enquanto todos os flashes se voltam para as potências econômicas – ou para as potências da beleza, como Venezuela e Porto Rico –, novas caras aparecem. Anedie Azael, do Haiti, conta que seu país nem sabe ao certo o que significa ser miss. “É o segundo ano que estamos participando, ainda estamos aprendendo.” A candidata, que é modelo, tirou dinheiro do próprio bolso para bancar a inscrição, a passagem e todas as despesas. Só conseguiu algum patrocínio quando já estava no Brasil. Seu desejo de vencer não é só para levar um pouco de alento ao seu sofrido país, especialmente após os terremotos de 2010. Anedie quer aprender como as grandes organizações não governamentais apoiadas pelo Miss Universo trabalham para, depois, tocar sua própria ONG, a Peace & Love International.
Elas são mesmo lindas. E cheias de boas causas. 

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