Aos 53 anos, Paulo Caruso – desenhista, cartunista, músico nada bissexto, arquiteto de formação e autor de dezenas de livros nos quais adicionou humor à conturbada realidade nacional – resolveu voltar seu traço para a cidade onde nasceu, foi criado, vive até hoje e que em janeiro completa 450 anos. São Paulo por Paulo Caruso – um olhar bem-humorado sobre esta cidade (MMcomunicação Ltda., 160 págs., R$ 100) é fruto de um passeio nostálgico empreendido pelo autor por locais de sua infância. Durante cinco meses, Caruso foi registrando num caderno escolar esboços de lugares postais da capital paulista. Seu filho Paulo
Wilke Caruso fotografou os ângulos escolhidos pelo pai e o
resultado é uma homenagem aos prédios e monumentos que, para
a maioria dos paulistanos, muitas vezes têm sua beleza encoberta
pela dura poesia concreta da metrópole. O texto do livro é de autoria
do próprio ilustrador, que bolou uma forma divertida de contar sua
história e a de São Paulo. “Se Nova York é a Grande Maçã, São Paulo é uma Grande Pizza”, brinca ele.

A fatia apresentada no livro tem como ângulo agudo o encontro dos rios Tietê e Pinheiros em oposição ao centro velho da cidade. Bem onde foi criado com o irmão gêmeo, o também cartunista Chico Caruso, que hoje mora no Rio de Janeiro. Mais exatamente na praça Júlio de Mesquita, apelidada pelo humorista carioca Jaguar de “monumento à lagosta desconhecida”. O pai dos dois cartunistas, “o verdadeiro Paulo Caruso”, que recebeu o nome por ter nascido num 25 de janeiro, como a cidade, morava com a família num dos apartamentos do Palacete Lugano, em cima do folclórico restaurante Filé do Morais, com suas generosas porções de carne servidas ao alho, acompanhadas de salada de agrião. Mantendo esta afinidade com a cidade, o passeio se estende pelo bairro da Liberdade, onde moravam seus avós, pela praça da Sé, local onde sua mãe, Marina, trabalhava como caixa da Caixa Econômica Federal, a poucos metros da catedral e a poucas quadras de onde hoje se encontra o Centro Cultural Banco do Brasil. Caruso e o filho também visitaram e registraram, entre tantos locais, o Museu do Ipiranga, o Parque da Água Branca, o Parque do Ibirapuera, o Jardim da Luz, a Pinacoteca do Estado, o Theatro Municipal, o bairro do Bom Retiro, o Mercado Municipal e o edifício dos Correios, todos provas vivas da majestade da capital.

Doze das ilustrações do livro também formam o Calendário para 2004 – São Paulo na visão de Paulo Caruso (Imprensa Oficial, 60 x 45 cm, projeto gráfico de Guen Yokoyama, R$ 25), que está sendo lançado paralelamente. A imagem favorita de Paulo Caruso, a que representa o mês de dezembro, foi batizada de Duelo de titãs.
Nela, num ângulo possível só artisticamente, vê-se, a partir do cruzamento da rua Líbero Badaró com a avenida São João, o rococó afrancesado do edifício Sampaio Moreira, o barroco italiano do edifício Martinelli, o estilo neoclássico do antigo Banespa e a massa totalitária do prédio do Banco do Brasil. Um ao lado do outro. Esta é a São Paulo de Paulo Caruso.