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Foram dez anos de obras, 1,2 milhão de horas de trabalho ininterrupto e 120 mil toneladas de concreto para erguer os pouco mais de 21,2 mil metros quadrados do Museu Nacional de Arte do Século XXI, em Roma. Recém-inaugurado, o Maxxi como é conhecida a construção foi projetado pela arquiteta iraquiana Zaha Hadid e custou 150 milhões de euros, o equivalente a R$ 390 milhões. Mas, diante dos espaços fluidos, dos sinuosos corredores e da complexidade da obra de engenharia executada, os números ficam em segundo plano. O impacto do prédio projetado por Zaha, vencedora do Prêmio Pritzker, uma espécie de Oscar da arquitetura mundial, em 2004, é tamanho que a Fondazione Maxxi, que bancou a empreitada por meio do Ministério da Cultura e do Patrimônio do país, só vai expor seu acervo em meados de 2010. Até lá, a obra de arte a ser admirada é a própria edificação. “Esta é uma tendência”, diz Issao Minami, professor de comunicação visual da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). “São construções que merecem admiração.”

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BALANÇO Formas moldadas em concreto, aço e vidro são a marca de Zaha Hadid

E há muito que se admirar no Maxxi. Quando foi projetado, em 1999, boa parte das curvas idealizadas pela arquiteta não podia sequer ser construída. A tecnologia da época não permitia. Mas, enquanto a obra seguia seu rumo, novas soluções em mistura de concreto foram desenvolvidas para viabilizar as improváveis torções que fazem o piso virar parede e a parede virar teto. Segundo Zaha, o efeito desejado era o de criar corredores cercados por uma espécie de onda de concreto que envolvesse o visitante “como uma fita de cetim se desenrolando no espaço”. Outra característica que deve se tornar uma das marcas registradas da obra é o enorme bloco de concreto e vidro que se projeta como uma cabeça da fachada principal. “É como se a peça se descolasse do resto da construção”, explica Celso Lomonte Minozzi, professor de arquitetura na Universidade Belas Artes de São Paulo. Para obter esse efeito, Zaha e sua equipe tiveram de fazer uma série de complexos cálculos estruturais. “Dá para ver que a peça inteira está em balanço, ou seja, não se apoia na estrutura imediatamente abaixo dela”, diz. Isso confere leveza à obra e mostra o esmero do trabalho tanto de arquitetura quanto de engenharia.

Uma das primeiras experiências de espaços de exposição que ofuscam seus acervos foi o Museu Guggenheim, em Nova York, que completou meio século em março. Idealizado pelo polêmico modernista Frank Lloyd Wright, o local gerou muita controvérsia quando foi inaugurado. Suas formas arredondadas lembravam um bolo de noiva que parecia ter pousado em meio aos dinossauros arquitetônicos que o circundavam na Manhattan dos anos 50. Houve quem questionasse a eficiência do espaço como ambiente de exposições e acusasse Wright e a instituição que bancou a obra, a Solomon R. Guggenheim Foundation, de espetacularização gratuita da arte. O tempo os redimiu. “Lá, a arquitetura e a arte não estão em uma disputa, elas se completam”, diz o professor Minami, da USP. “É lindo e funciona.” A extravagante versão espanhola do Guggenheim também causou enorme polêmica, quando foi inaugurada em Bilbao, em 1997. Até hoje, o prédio, de Frank Gehry, é muito mais famoso do que o acervo do museu, voltado para a arte americana e europeia do século XX.

Se museus chamativos não são novidade, inaugurar o local antes de recheá-lo com quadros e esculturas é. O anexo do Museu Judaico de Berlim, do arquiteto Daniel Libskind, foi um dos primeiros a abrir assim, vazio, em 2001. O espaço, vizinho a uma construção do século XVIII que reúne marcos dos dois mil anos de história do judaísmo na Europa, impressionou pela imponência e pelas claras referências ao Holocausto. Agora, assim como os alemães visitaram o Museu Judaico de Berlim vazio para observar as interpretações arquitetônicas da conturbada história judaica na Europa, os italianos poderão admirar uma amostra da arte e da arquitetura do século XXI na casca do Maxxi antes que as obras do mesmo período ocupem suas galerias. Parte do acervo, que tem peças de Anish Kapoor e Gerhard Richter, já foi até comprada. Mas terá de esperar. Até o final do verão europeu de 2010, o museu terá apenas uma peça para expor: o próprio museu.

Outros espaços que ofuscam suas exposições

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Com o MAC, em Niterói, Oscar Niemeyer criou um ícone, mas a fachada envidraçada dificulta as exposições

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Desde 1977, o Centre Georges Pompidou, em Paris, oferece um pouco de tudo em embalagem bastante chamativa

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Projetado por Frank Lloyd Wright, o Guggenheim de Nova York, de 1959, é um marco da arquitetura

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De 1997, o Guggenheim de Bilbao, concebido por Frank Gehry, eliminou a noção de museu como espaço neutro