Com 15 minutos de atraso, ela apareceu soberana e impecavelmente bela. Nenhuma gota de suor no rosto suave e simpático de Silvia Renata de Toledo Sommerlath, a rainha da Suécia, 59 anos. “Desculpem-me pelo atraso. O trânsito estava horrível”, apressou-se em dizer a “rainha brasileira” como por aqui é chamada por ser filha de mãe brasileira e de pai alemão. A missão da rainha Silvia no País, onde viveu entre os quatro e 13 anos, foi visitar os projetos sociais de sua fundação, a World Childhood Foundation (WCF). Criada em 1998, a fundação trabalha no combate à exploração sexual de menores. Está espalhada por 13 países, inclusive no Brasil. Depois de passar por Porto Alegre, ela chegou a São Paulo quando foi decretada a prisão do cantor Michael Jackson, justamente por acusações de pedofilia. “Essa é a segunda vez que ele é acusado”, lembrou a rainha nesta entrevista exclusiva a ISTOÉ. Em casa, ela compartilha essas questões com o rei Carl Gustav XVI, com quem está casada há quase trinta anos.

Istoé – Como vê a ordem de prisão contra o cantor Michael Jackson, sob a acusação de crime de pedofilia?
Rainha Silvia
– É a segunda vez que isso acontece (arregala os
olhos). Espero que não seja realmente como estão falando. É uma
pena porque ele é um ídolo tão forte para tanta gente. Michael Jackson
é um gênio, como ele canta, como dança! A gente fica chocada mesmo quando ouve esse tipo de história.

Istoé – A sra. não acha que a punição para quem comete esses crimes deveria ser mais severa? O cantor pagou uma fiança de
US$ 3 milhões e foi libertado.
Rainha Silvia
– A fiança é até o caso ser decidido pela Justiça. Ele
nega a acusação, mas está em observação. Bom, de qualquer forma
cabe à Justiça avaliar este caso. Eu apenas acompanho essa história
pela imprensa.

Istoé – Como a sra. analisa a atuação de quatro anos da sua fundação no Brasil e no mundo?
Rainha Silvia
– Estou muito orgulhosa, porque, apesar do pouco
tempo de atuação, temos feito muitos progressos, com apoio técnico
e financeiro a 19 projetos voltados para o atendimento das crianças
em 14 Estados brasileiros. Ontem, estive em Porto Alegre e fiquei muito impressionada com o que vi. As crianças usaram baldes, garrafas e
outros materiais recicláveis para fazer instrumentos. Montaram uma verdadeira orquestra, muito bonita.

Istoé – Embora existam milhares de organizações que trabalhem no combate à exploração sexual, como a WFC, o mercado da pedofilia movimenta anualmente US$ 5 bilhões. Qual a saída?
Rainha Silvia
– Além do empenho das organizações em ajudar essas crianças, é necessário que os países mudem suas leis para coibir esses crimes e isso já está acontecendo. Mesmo assim, tem-se a impressão de que o problema está piorando. São vários os fatores que contribuem para isso. Na Europa Oriental, depois da queda de União Soviética, por exemplo, a situação financeira daqueles países agravou-se, fortalecendo o tráfico de crianças para a Europa Ocidental. Mas o que mais me impressiona é que os pedófilos são ocidentais, cultos, de boa educação.

Istoé – A sra. discute em casa seu trabalho com seu marido e
suas filhas?
Rainha Silvia
– Falo da Childhood na café da manhã, no almoço e no jantar. A princesa Victória também tem a sua própria fundação que atende crianças deficientes. A princesa Marlene é patronesse de uma organização que desenvolve um trabalho com crianças em fase terminal.