26/11/2003 - 10:00
O presidente Lula está cultivando o estilo de dar recados sobre política interna em seus périplos internacionais. Das altitudes temperadas de Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), durante a 13ª cúpula Ibero-americana, disparou um jato de água fria nos políticos afoitos que querem apressar
a reforma ministerial: “Quem troca ministério e discute com os partidos
é o presidente”, avisou. Entre os alvos do comentário estão membros
da alta cúpula palaciana e do PMDB. Mas o que seria uma advertência para abrandar a sofreguidão em busca de cargos acabou aguçando a guerra pelas cadeiras. Para o público interno, o estrilo de Lula não é inédito. Quando voltou da África, desautorizou seu núcleo duro de especular sobre nomes e o calendário da reforma. Disse que a
reforma é indelegável: “Quem decide sou eu. Montei o ministério e
a responsabilidade é minha.” Dito e feito. Na terça-feira 18, Lula
se reuniu com os caciques do PMDB e prometeu: “A reforma será
feita entre o dia 15 de dezembro e o Natal. Até lá, dá tempo para
fazer a reforma que eu quero.”
A advertência de Lula na Bolívia tinha o objetivo de neutralizar
um embate travado na Casa Civil, do ministro José Dirceu (PT-SP),
e na Secretaria Geral da Presidência, tocada pelo reservado Luís
Dulci (PT-MG). Ambos fazem discretos movimentos para ampliar a ascendência sobre o presidente. Dulci, o ghost-writer de Lula, teria identificado a manobra para afastá-lo da vizinhança. Amigos de Dulci dizem que a intriga começou com a divulgação de notas nos jornais, segundo as quais ele assumiria a Educação, no lugar de Cristovam Buarque (PT-DF). O posto de Dulci é cobiçado por Tarso Genro, que preside o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, e por
Dirceu, que quer dividir a tarefa de negociar cargos e verbas com o Congresso. Dirceu gostaria de nomear alguém que o livrasse da superexposição e do rótulo de todo-poderoso.
O tamanho da reforma também opõe Dulci a Dirceu. O chefe da Casa
Civil tem defendido a extinção de mais de uma dezena de pastas,
entre ministérios e secretarias. Já Dulci defende mudanças pontuais
e a manutenção das secretarias especiais: das Mulheres, presidida
por Emília Fernandes, da Igualdade Racial, por Matilde Ribeiro, e da
Pesca, do marejado José Fritsch. Lula começou a ouvir seu núcleo de poder sobre o desempenho dos ministros e já emitiu sinais de que a reforma será cirúrgica. Não anunciou decisões, exceto a de entregar
duas pastas ao PMDB, que cobiçava três para ratear entre as bancadas da Câmara, do Senado e os governadores.
Nas sondagens há uma convergência entre Dirceu, Dulci e Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação), o chamado núcleo duro. Três deverão ser desalojados: Benedita da Silva (Assistência Social), Anderson Adauto (Transportes) e Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia). Nenhuma dessas pastas está prometida ao PMDB. O Ministério da Assistência Social deve ser incorporado ao Fome Zero, que continuaria com José Graziano. E o PSB escolheria um novo nome para a Ciência e Tecnologia. “Por nós, Amaral fica”, diz o líder do PSB, Eduardo Campos (PE). No PL há uma disputa entre o vice-presidente da República, José Alencar (MG), e o presidente do partido, deputado Valdemar Costa Neto (SP), para indicar o sucessor de Adauto. Lula deverá acolher o nome indicado por Alencar, o deputado Jaime Martins (MG).
O PMDB, que já cobiçou a Educação e a Integração Nacional, de Ciro Gomes (PPS-CE), agora prefere os ministérios das Cidades, de Olívio Dutra (PT-RS), e das Comunicações, de Miro Teixeira (PDT-RJ). Na
briga pelas vagas, o único nome certo é o do líder do PMDB na Câmara, Eunício Oliveira (CE), ainda sem pasta definida. Para a outra vaga brigam três senadores: Hélio Costa (MG), Garibaldi Alves (RN) e Romero Jucá (RR), o preferido do presidente do Senado, José Sarney (RR) e do líder Renan Calheiros (AL). No Palácio, Garibaldi é o mais cotado. Em Alagoas, na quinta-feira 20, Lula comentou: “A especulação dificulta as chances de quem está na vitrine.”
Além dos ‘imexíveis’ (Dirceu, Dulci, Antônio Palocci e Gushiken), Lula garantiu mais um ministro. Disse que Ricardo Berzoini (PT-SP), da Previdência, fica. O presidente pediu a todos um relatório minucioso
de suas ações e detalhes dos gastos. “Eu não quero olhar só nomes, quero ver as ações também”, tem dito Lula. Quem ficar terá de dar um “salto de qualidade” em 2004.
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