Quatro décadas não envelheceram em nada esta obra-prima do cineasta espanhol Luis Buñuel, uma das melhores de sua fase mexicana. Com esplêndida fotografia em preto-e-branco assinada por Gabriel Figueroa, a comédia surrealista conta a história absurda de um grupo de nobres convivas que não conseguem abandonar a luxuosa casa do anfitrião. Na sequência, coisas estranhíssimas começam a acontecer. Uma mulher abre a bolsa, deixando ver não dinheiro, mas penas e pés de galinha. Outra se repete no gesto neurótico de só pentear metade do cabelo, motivo de irritação do irmão, que começa a se depilar com um barbeador elétrico. Passados mais uns dias de clausura, os personagens se entregam a instintos animalescos, deixando cair todas as máscaras burguesas numa espécie de versão demolidora e antecipatória dos atuais reality shows.