Conhecido no País desde o lançamento de Ruído branco (1984), um de seus primeiros sucessos comerciais – obra de certa forma visionária, na qual antecipa a paranóia americana em relação a contaminações tóxicas –, o americano Don DeLillo tornou-se famoso por romances de fôlego em que escarafuncha os medos mais profundos da América. Exemplos deste estilo ambicioso não faltam. Libra – referência ao signo de Lee Harvey Oswald no zodíaco – é uma ficção inspirada na conspiração real que matou John Kennedy. Submundo conta a história recente dos Estados Unidos, do início da Guerra Fria aos tempos da Aids. Em A artista do corpo (Companhia das Letras, 128 págs., R$ 19,50), DeLillo promove uma guinada radical na sua obra. Surpreende os fãs com a aparente modéstia da narrativa curta, mas jamais vai decepcioná-los.

Em vez de investigar a decadência do sonho americano, ele optou por conduzir uma história de sutilezas, centrada basicamente numa única personagem, Lauren Hartke, artista performática que explora a capacidade de mutação de seu corpo, desdobrado nas formas das mais variadas personagens. Ao contrário do que o título do livro sugere, contudo, não é o talento inato de Lauren que está em questão. Mas a curiosa experiência vivida por ela depois do suicídio do marido. Enclausurada num enorme casarão à beira-mar, ela depara-se com um enigmático intruso, homem de idade indefinida, que pouco se expressa até a relação entre ambos – regida pela incomunicabilidade – evoluir para o afeto.

A artista do corpo

é um livro que apresenta enigmas, sem a pressa de decifrá-los. Mais uma vez DeLillo confirma a maestria em agarrar o leitor. O único defeito é o prazer curto, que se esgota em suas poucas páginas.