Sem ter nada a dizer, o prefeito de Coreaú (CE), Francisco Teles Pinto, tentou justificar o injustificável: “Perdi a cabeça.” O País viu pela tevê o soco que ele deu na professora Socorro Albuquerque durante uma assembléia na escola pública Flora Teles, na terça-feira 4. Pinto não gostou do discurso de Socorro, que fazia oposição à professora apoiada por ele na eleição para diretor do colégio. A cena é emblemática, uma síntese dos erros do sistema educacional brasileiro. Na última semana, o ministro Paulo Renato descobriu que os estudantes brasileiros são piores que os de 31 países, incluindo a Rússia e a Letônia, na avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). São estes mesmos alunos que, se chegarem à universidade pública, podem enfrentar longas greves, como a dos docentes federais, que passou dos 100 dias. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que conta pontos para o vestibular de 296 instituições, divulgou na última semana os resultados deste ano, revelando mais um triste dado: a metade tirou insuficiente ou regular.

A educação brasileira está piorando? De acordo com o Enem, sim. Numa escala de zero a 100, a média das notas foi 40,6 na prova de questões objetivas e 52,6 na redação. Em 2000, foram, respectivamente, 51,85 e 60,87. As notas também caíram porque o exame foi gratuito para 83% do 1,2 milhão de inscritos, 316% a mais que no ano passado. Isso significou um aumento de alunos da rede pública (66%), notadamente menos preparados que os da rede particular (19%). Para os críticos do Enem, o resultado não é novidade. “Já se sabe há tempos que a escola pública precisa melhorar. As estatísticas dizem isso e não é preciso o exame para mostrar”, diz a professora Sandra Zakia, da Faculdade de Educação da USP.

Paulo Renato disse que a culpa é da exclusão social. Segundo o ministro, “oferecer escolas públicas de qualidade” pode ajudar a minimizar o problema. Mas há quem acredite que a própria avaliação seja um agente de exclusão social: “E quem sai da escola pública e tira nota insuficiente faz o quê? O Enem só vai dificultar a entrada desse aluno na universidade e no mercado”, afirma Sandra. A coordenadora do exame, Maria Inês Fini, diz que a prova radiografou a educação no País. “É um retrato que nos incomoda. Precisamos, principalmente, efetivar a leitura”, diz. Para ela, o Enem e o Pisa – que avaliou cinco mil alunos de 15 anos – mostram que o atraso escolar é um dos piores inimigos do País. O Brasil ficou em último lugar na lista do Pisa. Paulo Renato disse que esperava um resultado pior: “Não é que o ensino seja ruim, é que há muita repetência.”

Pelo menos um impasse caminha para o fim. Estudantes das instituições federais podem voltar às aulas esta semana, depois do acerto entre governo e docentes. A liberação de R$ 340 milhões para o reajuste dos salários foi aprovada pelo Congresso e acabou com a greve. Desamparados mesmo continuam os professores de Coreaú. Depois de assistir a uma agressão injustificável, viraram símbolo da luta pela dignidade do ensino. Socorro.