i133997.jpg

"Elza Soares não tem idade." É assim que a cantora de olhos amendoados, sorriso rasgado e boca enorme explica o seu sucesso junto a uma legião de fãs que nem eram nascidos quando ela deixou os filhos com a vizinha para tentar a sorte no programa "Calouros em Desfile", apresentado pelo cantor, compositor e radialista Ary Barroso, em 1953, na Rádio Tupi. "A garotada se acaba nos meus shows", diz a artista carioca, que jamais revela quantos anos tem (especula-se que tenha nascido em 1937 e, portanto, teria 72 anos).

Tatuada, com calça colada ao corpo e blusa que normalmente mostra um pouco dos seios siliconados, Elza também tem um marido muito mais jovem do que ela, o cinegrafista Bruno Lucide, 26 anos. Em bares ou restaurantes do Rio de Janeiro, onde mora, ela sempre é vista com uma galera com quase meio século a menos de sua idade, seja ela qual for. Mas Elza é uma eterna garota e nunca perde a motivação juvenil por novas experiências. Em sua carreira, primeiro foi o samba, que a consagrou.

Depois vieram o hip-hop, o rock e a música eletrônica. Agora ela se dedica a uma paixão antiga com a qual "flertei durante todos esses anos: o jazz". O seu CD com regravações de canções já interpretadas por Billie Holiday e Ella Fitzgerald, entre outras divas americanas, será lançado em breve. Entre as músicas está "Strange Fruit", que fala do linchamento de dois negros no sul dos EUA. "Imagino a cena dos dois homens pendurados na árvore, com o sangue escorrendo, e me emociono muito. Sempre", diz ela.

A cantora de voz rascante também estreia no cinema. Duas cineastas preparam filmes sobre ela: Izabel Jaguaribe e Elizabete Martins Campos. "Ela está se mostrando como nunca", diz o marido, Bruno Lucide. Os dois se conheceram num show de Elza na cidade mineira de Itabira, em meados no ano passado. Foi dele a ideia de organizar (por um selo próprio, o Pívetz) um disco com gravações feitas há cerca de dez anos por Elza e o violonista João de Aquino. O CD, que se chamará "Arrepios", será lançado no fim do ano, mas eles já apresentarão esse disco num show no Rio nesta quarta-feira 12. A intenção é fazer uma apresentação mais intimista, no estilo voz e violão, mas Elza promete que "incendiará" a plateia: "Nem que seja com uma piscada de olho."

Elza vive cercada de jovens – a produtora, o assistente, a fotógrafa, todos estão na faixa dos 20 anos – e é essa convivência com a juventude que a ajuda a se manter "atualizada". "Podem me chamar de ridícula, porque não estou nem aí. Não tenho de me comportar como uma velha porque querem que eu faça isso", diz ela. "Sou perigosa" – é justamente esse o seu pseudônimo na turnê "Os compulsivos e a perigosa" com o grupo Farofa Carioca, que mistura funk, hip-hop e rap, e já teve Seu Jorge como vocalista. A parceria, que nasceu no ano passado durante um festival de música na Suécia, é mais uma prova da versatilidade da cantora, que interpreta canções como "W/Brasil (Chama o síndico)", de Jorge Ben Jor. Até o fim do ano, eles se reunirão para novas apresentações./wp-content/uploads/istoeimagens/imagens/mi_5236466740122541.jpg