i133987.jpgNa crescente onda de vampirismo que invade atualmente a literatura, uma personalidade real ganha nova pele como os próprios mortos-vivos das lendas de horror. Alvo de diversas publicações no Exterior e no Brasil, a sofisticada artistocrata Elizabeth Bathory (1560-1615), conhecida como a condessa vampira, tem sua biografia recontada sob diferentes ângulos. Bela, perversa e psicótica, ela nasceu numa família que detinha o poder sobre todo o antigo Reino da Hungria, território que hoje pertence à República Eslovaca. Era considerada uma das mais vistosas jovens de sua estirpe e o seu temperamento instável e autoritário também a tornou personalidade temida nos arredores do castelo Cachtice, onde vivia. Inteligente, soube valorizar a prestimosa educação recebida e falava com desenvoltura o latim, o húngaro e o alemão.

Aos 15 anos, Elizabeth casou-se com o conde Stefan de Bathory, que ampliou ainda mais o seu poder e o seu prestígio ao ser nomeado rei da Polônia. Protegida pelos nobres brasões familiares, Elizabeth sentiu-se livre para então exercer uma outra faceta com a excelência que lhe era peculiar: a de torturadora e assassina em série. Esses atributos a tornariam conhecida em todo o mundo.

Elizabeth cresceu assistindo aos violentos conflitos territoriais (entre turcos e austríacos) e religiosos (católicos e protestantes) e viu, ainda criança, as suas três irmãs mais novas serem violadas e mortas por soldados. Também sofria de epilepsia e de ataques de ira incontroláveis. Adulta, tornou-se uma vilã tão cruel quanto seus algozes. Torturava suas criadas e damas de companhia por qualquer equívoco e em muitas ocasiões teve o apoio de seu marido nessas seções de sadismo.

Em um acesso de raiva teria chegado a abrir a mandíbula de uma serva até que os cantos de sua boca se rasgassem. A fama de vampira surgiu, num primeiro momento, do seu hábito de morder e dilacerar a carne de suas criadas. Mas Elizabeth foi ainda mais longe: ela recrutava meninas, as matava e usava o sangue para se banhar – acreditava que uma banheira com sangue de crianças era a fonte eterna da juventude. Estima-se que Elizabeth tenha assassinado 647 meninas Em janeiro de 1610, após rumores sobre seu comportamento, um grupo liderado pelo seu primo, o conde Thurzo, entrou no castelo e flagrou-a em seu estranho banho.

A vida da condessa Bathory foi cercada de mistérios e a própria nobreza da época procurou esconder tudo que se relacionava às terríveis histórias que já circulavam. Por isso mesmo, surgiram muitos mitos e lendas sobre os horrores praticados por ela e que são ainda farta matéria-prima para a arte. O fotógrafo turco Mehmet Turgut, por exemplo, criou um ensaio a partir de sua história. Há bandas de heavy metal que levam seu nome e dezenas de comunidades no Orkut dedicadas a ela com cerca de sete ou oito mil integrantes.i133988.jpg

No campo da literatura existem diversos romances baseados em sua vida, entre eles "O Legado Bathory", de Alexandre Heredia, recém-lançado no Brasil. A trajetória macabra da condessa rendeu também filmes góticos, de terror e dramas – o mais recente é a produção franco-alemã "A Condessa", protagonizada e dirigida por Julie Delpy e com a participação de William Hurt, que foi apresentada este ano no Festival de Berlim e tem estreia prevista para outubro. "Minha intenção foi fazer algo semelhante a uma tragédia grega, com obsessão, amor, abandono e traição. Paixão. E destino", diz Julie.

De volta aos arquivos históricos, sabe-se que a Justiça na época interveio impedindo que Elizabeth continuasse com os seus crimes – isso depois de ela atrair para o seu castelo uma menina de origem nobre. Consta que todos os funcionários cúmplices dos atos da condessa receberam a pena de morte, e ela acabou condenada a uma espécie de prisão domiciliar: aos 51 anos foi encarcerada num quarto de seu castelo e lá viveu por mais três anos isolada do mundo. Morreu assim. O número contabilizado de vítimas da condessa continuou aumentando após a sua morte – o saldo final hoje aceito é de 647 meninas mortas, muitas delas emparedadas nos porões do castelo.

Condessa Bathory, O Mitoi133991.jpg

Após quatro séculos, a lúgubre história da condessa continua motivando autores em todo o mundo. Entre os lançamentos e reedições estrangeiras está "Elizabeth Bathory, A Condessa Sanguinária", segundo livro da escritora francesa Valentine Penrose, uma das maiores especialistas nessa personagem. Ela retrata a vampira, por meio de licenças poéticas e boa dose de romantismo, elegendo-a um arquétipo da beleza e do poder femininos. Outro título que está sendo reeditado é "Elizabeth – Drácula era Mulher: Em Busca da Condessa Sanguinária da Transilvânia", de Raymond McNally, um ensaio bem-humorado sobre o suposto parentesco entre a nobre húngara e o vampiro Vlad da Pensilvânia, o famoso conde Drácula.

i133989.jpg

.