Estava combinado com os proprietários do centro de convenções de Fort Smith, no conservador Estado americano do Arkansas: no torneio de vale-tudo daquela noite, um lutador chamado Dave Hetero desafiaria um suposto espectador a duelar com ele. Ninguém esperava, porém, que, em vez de socos, os dois trocariam carícias. Homens indignados tentaram até invadir a jaula que servia de ringue. Foi justamente para captar tais reações contra o homossexualismo que o ator britânico Sacha Baron Cohen forjou essa situação – e arriscou a pele para gravar uma das cenas mais controversas de seu novo filme, "Brüno", que estreia no Brasil na sexta-feira 14.i134006.jpg

O ator-comediante é famoso como Borat, o repórter cazaque que dá nome ao filme lançado em 2006. Agora, ele volta ao cinema na pele de Brüno, um fashionista austríaco que continua fazendo humor com preconceitos. Mas, se as piadas de "Borat" com negros, judeus, mulheres e homossexuais chocaram, as de "Brüno" motivaram até a proibição do filme na Ucrânia, onde foi considerado imoral. Nos EUA, porém, estreou no topo da lista dos mais vistos, desbancando blockbusters como "A Era do Gelo 3".

O principal alvo das piadas incorretas de "Brüno" é a busca insana pela fama. O protagonista quer ser "a segunda maior celebridade da história da Áustria" – a primeira seria Adolph Hitler. Mas seu sonho se esfacela quando perde o posto de apresentador de um programa de tevê. Aí, decide tentar a vida nos EUA. Repetindo a fórmula de "Borat", o comediante enganou gente famosa e desconhecida para garantir realismo ao filme. Numa cena, usa imigrantes mexicanos como cadeiras numa entrevista com a cantora Paula Abdul, jurada do reality show "American Idol". Paula não imaginava o teor da chacota.

O palestino Ayman Abu Aita também não. Brüno procura o suposto líder do grupo terrorista Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa para lhe propor um sequestro. "Quero ficar famoso. Quero que os melhores nesse negócio me sequestrem. A Al-Qaeda está ultrapassada", diz. Sacha Baron Cohen, que tem origem judia, prega outra peça ao fazer seu personagem desfilar nas ruas de Jerusalém com uma versão míni do traje usado pelos ortodoxos. Numa referência à cantora Madonna, ele adota um garoto africano que diz ter sido trocado por um iPod e o faz usar uma roupinha com os dizeres "Gayby", algo como "bebê gay".

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O personagem acaba apelando à "conversão" ao heterossexualismo para ter a sonhada fama. "Os homens famosos do mundo, Tom Cruise, John Travolta, Kevin Space, têm uma coisa em comum: são heterossexuais", é o seu raciocínio. E parte para um encontro com um pastor que promete "curar" homossexuais. No processo, passa por uma orgia, recebe aulas de autodefesa e frequenta até uma academia militar onde se surpreende com o fato de os colegas não saberem o significado das letras DG de seu cinto: Dolce&Gabbana.