Uma das maiores dificuldades para a compreensão das razões e repercussões de uma doença ou de um tratamento está no desconhecimento, por parte do paciente, da anatomia do corpo
humano. É difícil visualizar onde, afinal, está ocorrendo aquele probleminha a que o médico se refere e o que ele tem a ver com os órgãos ao redor. Em geral, os instrumentos mais comuns para ajudar nessa tarefa são papel e caneta – usados para desenhos frequentemente pouco esclarecedores – ou ilustrações de livros. Agora, os médicos brasileiros começam a contar com um recurso mais eficaz. A Universidade de São Paulo (USP) está produzindo uma coleção de CD-ROMs com imagens impressionantemente nítidas e precisas do organismo. Os responsáveis pela novidade são profissionais vinculados à disciplina de telemedicina, área que utiliza as tecnologias de comunicação e informática para promover educação de medicina a distância. O objetivo é fazer com que esse modelo de homem virtual contribua para melhorar o entendimento da complexidade do corpo.

Por enquanto, a série contém oito CDs. Entre eles, estão um sobre a anatomia dos órgãos geniturinários masculinos, outro sobre a marcha humana e como ela é afetada por amputações, outro sobre educação postural, acne, e ainda um CD que mostra detalhadamente como ocorre o ciclo do nascimento e morte do pêlo. A equipe finaliza agora produtos sobre a anatomia do olho, asma e hidratação da pele. Os softwares são desenvolvidos de acordo com as necessidades e as parcerias. O CD-ROM da anatomia geniturinária masculina, por exemplo, está sendo distribuído pela Sociedade Brasileira de Urologia a seus associados. O trabalho sobre a marcha já está ajudando médicos e pacientes do serviço de reabilitação física do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Em média, cada CD consome três meses de trabalho. Médicos especialistas e digital-designers unem seus conhecimentos para colocar na tela do computador exatamente o que ocorre dentro do corpo humano. Tudo com a ajuda da computação gráfica. O resultado é impressionante. Ao se ver as imagens, em três dimensões, é possível entender claramente as reações do organismo, e em detalhes. “Trata-se de uma forma de comunicação eficiente, que facilita a compreensão da doença e a necessidade dos tratamentos. Também é uma maneira de contribuir para a formação do médico, que consegue aprender, às vezes, muito mais rapidamente do que nos livros”, afirma Chao Lung Wen, médico e coordenador da telemedicina da USP. Até o ano que vem, a equipe pretende chegar à marca de 30 títulos de CDs. “O homem virtual não acaba. Pelo contrário, ele continuará crescendo à medida que surgem mais e mais informações sobre o corpo e as doenças”, diz Wen. Os CDs estão à venda por R$ 50. Instituições de ensino e hospitais podem firmar acordos com a universidade para a utilização dos produtos.