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Na parte baixa do mapa terrestre está o maior manto de gelo do planeta. São 13,6 milhões de quilômetros quadrados de neve e água congelada, cobrindo 99,5% do continente antártico. Trocar sol e praia por um verão ali parece uma escolha improvável. Mas o número de visitantes na região quadruplicou na última década. Na temporada passada, de outubro de 2008 a março de 2009, 38.200 turistas estiveram no local. Entre eles estão brasileiros de todas as idades, interessados em vislumbrar um lugar que é o extremo oposto do clima tropical vigente na maior parte do País. "No ano passado levamos quase cem brasileiros, enquanto em 1998 iam no máximo dez", diz Zelfa Silva,

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A cada alta estação, 45 navios fazem cerca de 250 viagens à região, com passageiros do mundo inteiro. Agora é, portanto, a hora de agendar as viagens e começar a preparar as malas, como o publicitário carioca Leonardo Ferreira Perim, 27 anos, que embarca em novembro e marcou a viagem há dois meses. "Sempre tive interesse em lugares pouco explorados", conta. Alguns roteiros oferecem apenas o cruzeiro, sem a possibilidade de pisar no gelo. Nos mais interessantes, porém, os navios aguardam na água enquanto os turistas visitam a terra firme, duas vezes ao dia, com o auxílio de galochas, três camadas de roupa, luvas, gorros, além dos botes infláveis chamados zodiacs. Os visitantes passam as manhãs e tardes andando pelo gelo e voltam ao navio para almoçar, jantar e dormir. Os pacotes começam em US$ 5,3 mil por pessoa.

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A caminhada pela península é agradável e inesperada. O viajante encontrará um lugar coberto por geleiras e calotas de gelo, enormes blocos de água doce que, na costa, flutuam no mar até formar os icebergs. Em meio ao silêncio, percebe-se como a água derretendo pode fazer um barulho fino e persistente. A superfície branca e azul se intercala com rochas e terra escura, nas quais se avistam animais como aves, focas e leões-marinhos. "O que mais me marcou foi ver os pinguins, que passam perto da gente sem medo nenhum", diz o neurocirurgião paulista Rogério Nascimento Fabbrini, 52 anos, que em janeiro fez um cruzeiro na Antártida com a mulher. O navio partiu de Ushuaia, cidade mais ao sul da Argentina, e navegou durante 15 dias pelo continente gelado. Dentro da embarcação, os passageiros tinham aulas sobre o que haviam visto e ainda iriam ver. "Quando cruzamos o Círculo Polar Antártico, a 66 graus de latitude, os tripulantes bateram um sino, organizaram uma festa e distribuíram um diploma aos passageiros", lembra Fabbrini. "Foi a melhor viagem da minha vida."

Afinal, é Antártica ou Antártida? Tanto faz. O nome vem do grego antarktikos, que significa oposto ao ártico, ou seja, na extremidade sul do planeta. Os portugueses adotaram a forma Antártida, também admitida no Brasil, mas menos popular no resto do mundo. Hoje há 36 estações de trabalho no continente, cujo futuro é decidido pelas mais de 30 nações participantes do Tratado da Antártica – inclusive o Brasil. Para garantir esse direito, precisam manter programas constantes de pesquisa no local.

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Uma das principais preocupações atuais dos ambientalistas é o impacto do turismo no local. "O turismo ambientalmente correto é muito importante para divulgar a importância da pesquisa e da conservação do local", diz o glaciólogo gaúcho Jefferson Simões, 51 anos, considerado o maior especialista brasileiro em assuntos sobre a Antártida. "Mas barcos com mais de 150 pessoas, além de isolar o turista do ambiente antártico, podem trazer impactos indesejáveis à região", alerta. Um deles se refere ao lixo, que demora muito mais tempo para se decompor no clima seco e frio do continente. Mas a norma vigente praticamente descarta grandes prejuízos da presença humana: todos os resíduos produzidos na Antártica devem retornar, dentro dos navios, ao país de origem para serem, enfim, descartados.