Desde que madre Paulina foi beatificada pelo papa João Paulo II, em 1991, a pacata Nova Trento (SC), cidade de colonização italiana localizada a 75 quilômetros de Florianópolis, não é mais a mesma. A devoção àquela que será oficializada a primeira santa brasileira leva às ruas estreitas do município, geralmente calçadas por paralelepípedos e margeadas por plantações de uvas e bananas, um fluxo mensal de 40 mil peregrinos. Trata-se de uma população flutuante quatro vezes superior ao número de habitantes da cidade. Madre Paulina viveu em Nova Trento de 1875 a 1903 e hoje a cidade catarinense é considerada a segunda maior em turismo religioso no Brasil, perdendo apenas para Aparecida do Norte (SP). A tendência é que o movimento aumente, e muito. “Temos a convicção de que o movimento vai crescer bastante, mas não é possível prever algum número. O que nós sabemos é que vamos precisar de mais infra-estrutura’’, diz a irmã Ilze Mees, coordenadora da congregação fundada por madre Paulina em Nova Trento. O movimento de peregrinos na cidade, segundo o secretário municipal de Finanças, Juarez Raulino, já responde por 80% da economia local. A produção de vinho, que neste ano chegou a 450 mil litros, e de queijos, um dos orgulhos dos neotrentinos, está cada vez mais atrelada e dependente da vinda dos fiéis.

O desafio é conseguir transformar o turismo religioso em benefícios para os munícipes. Embora a explosão de romeiros tenha começado há mais de uma década, a cidade não dispõe de hotéis e conta com apenas quatro farmácias e quatro postos de saúde. Em Vígolo, lugarejo onde está localizado o Santuário de Madre Paulina, com objetos que retratam a vida da religiosa na cidade, pouco foi investido nos últimos anos. Agora a luta é contra o tempo. “Temos que desenvolver com urgência um programa para melhorar o setor de hotelaria e gastronomia da cidade’’, reconhece Flávio de Almeida Coelho, presidente da Santa Catarina Turismo S.A (Santur). Ele espera abocanhar US$ 160 milhões do Projeto de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), custeado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “Estamos em fase de negociações’’, revela, em tom de otimismo, o presidente da Santur. Mas, enquanto os projetos não ganham forma, as religiosas do Santuário de Madre Paulina apelam à venda de lembrancinhas da religiosa para manter o local em funcionamento. A falta de recursos obrigou a administração do santuário a engavetar o projeto para a construção de uma basílica com capacidade de abrigar 6,5 mil pessoas e optar por outro menos audacioso, com capacidade de acomodar 3,5 mil fiéis. Por enquanto, as atrações do santuário da religiosa à disposição dos visitantes são espaços que contam a história de madre Paulina através de objetos e fotos. Na réplica do casebre onde a madre viveu, ainda está a sua cama. Sob o colchão de palha, amontoam-se centenas de bilhetes com pedidos a ela.