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DESENGONÇADO
Mabel corre sobre duas pernas, mas ainda não se mantém de pé sozinho

Os robôs já falam, pegam objetos, jogam futebol, fazem atividades domésticas e de escritório. Mas, até hoje, eles não tinham a capacidade de replicar uma das façanhas mais características dos seres humanos: correr sobre duas pernas. Essa dificuldade agora é parte do passado. Cientistas revelaram o robô sem rodas mais rápido já criado. Ele é dotado de pernas com joelhos e pode alcançar 11 quilômetros por hora. É uma velocidade equivalente apenas à de uma pessoa trotando, mas o feito abre caminho para a criação de máquinas-soldados ou para resgates capazes de chegar a qualquer lugar que um ser humano puder.

“Queremos máquinas que possam, por exemplo, ajudar bombeiros. Elas poderiam entrar numa sala em chamas, subir escadas e desviar de objetos caídos”, disse à ISTOÉ Jessy Grizzle, um dos responsáveis pelo invento. O projeto é financiado em parte pela Darpa, agência de pesquisa das Forças Armadas americanas. Então o objetivo é criar robôs para matar? Sim e não. “O interesse da Darpa é no desenvolvimento tecnológico”, responde Grizzle. “Basta lembrar que eles desenvolveram carros que não precisam de motorista e agora o Google está testando a mesma tecnologia para o dia a dia”, diz. Outra criação famosa da agência é nada menos que a internet.

O projeto, desenvolvido na Universidade de Michigan (EUA), foi batizado de Mabel, sigla em inglês para bípede antropomórfico com pernas elétricas. Mais do fazer soldados ou bombeiros cibernéticos, os pesquisadores querem usar robôs como plataformas científicas. “Estamos criando a ciência de locomoção sobre pernas em máquinas”, explica Grizzle. Outros usos podem ser exoesqueletos, capazes de fazer paraplégicos voltar a andar, ou dar a algumas pessoas habilidades super-humanas para correr e pular.

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"A parte mecânica dos robôs ficará pronta muito antes
de a inteligência artificial servir como um cérebro"

Jessy Grizzle, responsável pelo projeto

O Mabel foi construído em 2008, mas novos algoritmos de computador criados agora deram a ele as condições para imitar a corrida humana. O corpo pesado, aliado a pernas leves e flexíveis, o deixa no ar por 40% do tempo de cada passo. Robôs anteriores tinham os dois “pés” fora do chão por um tempo quatro vezes menor. A diferença pode parecer pequena, mas é o que separa um passo robótico do nosso. Muito, porém, ainda precisa ser melhorado.

O robô ainda tem de estar atrelado a um tipo de braço, preso a um eixo central, para se manter de pé. Isso porque ele só se movimenta para a frente e para trás. O equivalente ao quadril no robô não se move para os lados. Portanto, ele não pode jogar o peso para a direita ou a esquerda a fim de se equilibrar, como fazemos o tempo todo. Junto com o pesquisador Jonathan Hurst, da Oregon State University, a equipe da Universidade de Michigan está construindo uma nova máquina que supera essa deficiência. “Ela poderá correr, pular, andar rápido e fazer tudo o que Mabel faz, sem precisar se apoiar em nada”, diz Grizzle.

Recentemente, IBM, Darpa e universidades americanas revelaram a criação de um chip que pode aprender, imitando a cognição humana. Outras máquinas estão se aproximando dos humanos, com feições, sentidos e outros atributos (leia quadro). Mas ainda falta muito para convivermos com robôs que possam ser confundidos com pessoas. “Minha aposta é que a parte mecânica ficará pronta muito antes de a inteligência artificial poder servir como um cérebro e dar total autonomia a eles”, diz Grizzle. “Nesse meio-tempo, poderemos controlá-los remotamente.” É o que temos para agora.

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