O recuo do PIB no terceiro trimestre, as pífias projeções de crescimento econômico e o desaquecimento da indústria, anunciados oficialmente na quarta-feira 30, não foram uma surpresa para o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Crítico severo dos juros altos, da pesada carga tributária e favorável a um choque de gestão para reduzir os gastos públicos, o empresário afirma que a mudança dos rumos da economia terá que acontecer, independentemente das vozes contrárias dentro e fora do governo, para não comprometer ainda mais 2006. O que já ocorre no País, ressalta, é a perda relativa do vigor do setor produtivo. A impressão que se tem, diz ele, “é que o Brasil tem medo de crescer”.

ISTOÉ – A economia dá sinais de desaquecimento em 2006, ano de eleição. O sr. acredita que haverá mudanças nos rumos da política econômica?
Paulo Skaf
– Espero que isso aconteça, porque essa tem sido a nossa luta. Além dos juros, esse câmbio é prejudicial e estamos no limite da carga tributária.

ISTOÉ – Esse pensamento tem eco em alguns setores do governo e também dentro do PT, do presidente Lula…
Skaf
– É mais fácil encontrar quem não pensa assim. Alguns tecnocratas pensam apenas na moeda. Só que o Brasil precisa de empregos, gerar riquezas. Pode ter havido uma teimosia, mas daqui para a frente tem que ser diferente por uma simples razão: a realidade que está aí mostrou um tremendo desaquecimento desnecessário. Ouço que a exportação vai bem: a que custo? E vai bem porque o mundo vai bem, deve crescer este ano 5%. Existem setores que conseguiram repassar em dólar aumento de preço, compensando o câmbio baixo. Quem quiser neutralidade chega à conclusão de que nós, da Fiesp, tínhamos razão. É preciso uma redução mais acelerada dos juros – e não é 0,5% ao mês! – para reaquecer a economia em 2006. Na visão dos técnicos do Banco Central, o princípio é o seguinte: cada vez que se tem demanda, abafa-se, com juro alto, e acaba-se com ela com medo do risco de inflação. Alguns esperam que o Brasil tenha investimentos sem demanda. O que eles ainda não descobriram é que primeiro vem a demanda, depois o investimento. Ninguém investe antes para depois vender. O que provoca o investimento é a carteira de pedidos, os negócios, a demanda. Quando se esfria a demanda, freia-se o investimento e não se tem crescimento, ou se tem um crescimento ínfimo. No Brasil há um medo de crescer. Cada vez que se chega a um crescimento de 3%, o BC faz questão de acabar com ele. Crescer é a solução para um país como o nosso.

ISTOÉ – O presidente do BNDES, Guido Mantega, diz que a indústria brasileira, apesar dos percalços, está pronta para brigar. O vice-presidente da República, José Alencar, no entanto, alerta que o País sofre um processo de desindustrialização. Quem está com a razão?
Skaf
– Não foi só o vice-presidente que falou em desindustrialização, mas também nomes respeitados, professores, pessoas que conhecem a realidade mundial. Foi unânime a idéia de que para haver crescimento do País há a necessidade de tornar a indústria mais forte e competitiva, e, para isso, precisamos de um cenário favorável.

ISTOÉ – Que cenário?
Skaf
– Não estamos falando de um cenário de favores, mas de um mínimo de isonomia em relação a outras partes do mundo. Não é com os juros mais altos do mundo, câmbio supervalorizado, burocracia, falta de investimento em infra-estrutura, alta carga tributária que se tem um cenário propício de desenvolvimento sustentável e crescimento industrial. Historicamente e principalmente em países com características como as do Brasil, que tem um parque industrial importante, ter um forte desenvolvimento é ter também um forte desenvolvimento da indústria.

ISTOÉ – Qual a saída?
Skaf
– É hora de sair do campo das hipóteses, dos pontos de vista e opiniões. Se tivéssemos crescido 4% e pago menos juros, então o que pregávamos não estava correto. Mas bateu exatamente no que dizíamos – refletiu na sangria no caixa do governo e no desaquecimento da economia. Em 2005, começamos aquecidos e poderíamos ter terminado o ano com crescimento.

ISTOÉ – Especialistas argumentam que o governo perdeu, no final de 2003, o bonde para baixar de forma acelerada a taxa de juros.
Skaf
– Não prego redução de 3% nos juros de uma só vez. Mas derrubar 1% ou 1,5% não teria problema algum. Juros altos é que quebram o País. Antes de anunciarem o PIB do terceiro trimestre, já prevíamos queda. Tem que acelerar a queda de juros e agora podemos defender essa tese com tranqüilidade. Queremos que isso seja feito de uma maneira responsável. Poderia baixar 1,5% agora e mais 1,5% em janeiro. Com isso, a taxa Selic passaria a 16% já no início de 2006.

ISTOÉ – Muda alguma coisa na economia se cair o ministro Palocci?
Skaf
– Problema de ministro é com o presidente da República. Não comento sobre ministros, não cabe. A responsabilidade do governo, da política econômica é do chefe da Nação. Cabe a ele definir o futuro de seus ministros. Pode-se ter uma mudança de ministro sem ter alteração de política e pode-se ter uma mudança de política sem mudança de ministro. Não acho que a política econômica está errada. Diria que precisamos fazer uma correção de rumos, começando pelos juros.

ISTOÉ – O sr. já combinou isso com os banqueiros?
Skaf
– (risos) Não culpo os banqueiros. Se eles têm uma política que favorece resultados astronômicos, não podemos culpá-los. Temos que mudar essa política e levar esse setor a tempos menos fartos, porque têm sido fartos demais. Não adianta o País ter um setor financeiro forte se, no final, o ativo do setor financeiro é o passivo do setor produtivo. Aí não sobrevivem o trabalho, o investimento, a indústria, a agricultura e o comércio, que são os que constroem uma Nação forte, o futuro e o desenvolvimento sustentável.