i132655.jpg

Artistas costumam descansar no início da semana. Menos o diretor cearense de teatro Aderbal Freire-Filho. Como por milagre, ele conseguiu passar toda a segunda-feira 27 sem comandar um ensaio. Foi a primeira vez que isso aconteceu neste ano. E dá uma ideia de como é requisitado. "No começo do dia achei legal não ter de ir ao teatro, mas logo fiquei meio estranho. E estou sentindo um vazio", diz o diretor. Nesses últimos tempos, Aderbal, 68 anos, se entregou completamente ao seu ofício.

O resultado está nos palcos, em três espetáculos. Outra peça de sucesso, "Hamlet", acabou a turnê nacional na semana passada. Em São Paulo, está em cartaz a premiada "As Centenárias" e, nos palcos cariocas, ele acabou de estrear duas produções: "O Continente Negro" e "Moby Dick". A variedade de espetáculos confirma o constante desejo das estrelas em trabalhar com Aderbal. "Virou meu mestre", diz Wagner Moura, protagonista de "Hamlet". "É um poeta", afirma Chico Diaz, que encabeça o elenco de "Moby Dick". Nas outras peças, ele dirigiu Débora Falabella, Yara de Novaes, Andréa Beltrão e Marieta Severo, que é sua namorada há quatro anos.i132656.jpg

Aderbal tem três novos projetos engatilhados, mas precisa antes se recompor do desafio de montar "Moby Dick", uma idéia que deixou espantado Chico Diaz, antigo parceiro convidado para ser o protagonista. "Devem ter pensado que eu estava louco", diz o diretor. Nem tão louco, mas corajoso, no mínimo. Encenar a história de Herman Melville, em que o capitão Ahab persegue obsessivamente pelos oceanos a grande baleia branca que lhe arrancou a perna, não parecia plausível para qualquer palco, muito menos um pequeno como o do Teatro Poeira, tocado por Marieta e Andréa."Não desisti porque acredito no poder do teatro", afirma.

Como a peça não tem efeitos especiais, o diretor cearense imaginou situações que estimulassem o público a visualizar o barco Perquod, os oceanos e também a baleia. "Não sou um efeitista", diz. A ação nos botes é sugerida por meio dos movimentos de livros; a grande baleia é simbolizada ora pelo próprio Chico Diaz (que também interpreta Ahab), ora por um pedaço de pano. Para chegar a essa concepção, Aderbal e os atores ensaiaram por cinco meses: "Houve momentos em que achei que não tinha saída."

Voz mansa, brincalhão e delicado no trato com os atores, ele é hoje uma preferência nacional. Os projetos se multiplicam à sua frente. Estão na fila "Macbeth", de William Shakespeare, uma releitura de "Orfeu" e um trabalho específico que não lhe sai da cabeça: "É uma peça que escrevi. Vou dirigi-la e também atuar nela." O título já está definido: "Depois do Filme". Mas ele nem imagina quando poderá se dedicar à produção. "Quando temos compromisso com os outros as coisas andam mais rápido", diz. A frase é uma senha: quer dizer que Aderbal não consegue viver longe do trabalho. Empatou: as artes cênicas também parecem não viver sem ele.