Pelo menos na Europa, o tráfego de mensagens curtas de texto via celular, conhecido como SMS (Short Messaging Service), é uma febre e responde por 30% a 40% do faturamento das operadoras. São bilhões de mensagens enviadas por ano, algo que virou moda especialmente entre o público adolescente. Mas, segundo a consultoria britânica HPI Research Group, os clientes querem mais. Uma pesquisa feita com 12 mil pessoas no Brasil, Alemanha, Estados Unidos, Itália, Reino Unido e Singapura revela que mais da metade dos entrevistados gostaria de enviar fotos, trechos de vídeo e músicas direto de seus celulares. É nesse filão que as empresas começam a apostar, introduzindo uma evolução do SMS chamada MMS, ou serviço de mensagens multimídia.

A Nokia, que produzirá 35% dos 380 milhões de aparelhos vendidos no mundo em 2001, lançou há três semanas, em uma conferência sobre internet móvel em Barcelona, o modelo 7650, dotado de uma câmera de vídeo. O mostrador colorido funciona como um visor, onde se escolhe a imagem a ser registrada com um click. A seguir, usa-se o teclado para digitar uma mensagem curta, anexar a foto e enviá-la para outro celular 7650, para um endereço de correio eletrônico ou ainda publicar na web. O aparelho opera no padrão europeu GSM e custa 500 euros (R$ 1 mil). “O primeiro passo no desenvolvimento do MMS é o envio de fotos. Logo virão os correios de voz e o envio de músicas”, diz Niklas Savander, vice-presidente de Marketing, Estratégia e Vendas da empresa finlandesa. Segundo ele, até o final de 2002 metade dos aparelhos vendidos pela empresa serão MMS e, a partir de 2003, todos sairão da fábrica com a mesma tecnologia.

No Brasil, só agora o Serviço de Mensagens Curtas começa a crescer. Entre abril e julho, os assinantes da BCP enviaram 11 milhões de mensagens, um acréscimo de 83% em relação aos 6 milhões do mesmo período em 2000. A empresa cobra a partir de R$ 0,30 por mensagem. Dos cinco milhões de assinantes da Telesp Celular, 1,7 milhão possui aparelhos capazes de enviar SMS. São números ainda tímidos em relação ao universo de 29,2 milhões de celulares habilitados no País. Estima-se que, em 2006, os brasileiros estarão trocando 46 milhões de mensagens escritas via celular, número igual ao de aparelhos celulares que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) espera ver circulando no mesmo ano. O grande salto será em 2002, quando devem entrar em operação as bandas D e E, que irão operar no padrão GSM (tecnologia mais avançada que otimiza a transmissão de dados). A Motorola, vice-líder no mercado, não perdeu tempo e já anunciou o primeiro aparelho GSM brasileiro: o T 192, com teclado para envio de mensagens. Nos EUA, a empresa comercializa por US$ 299 (R$ 750) o V200 Personal Communicator, quase um teclado móvel com acesso à internet e acionado por voz. Já a Sony Ericsson Mobile, fruto da união de dois gigantes que fecharam parceria em outubro para atuar no mercado celular, reserva para o Brasil o modelo T60, que envia mensagens e, como os videogames, tem um joystick.

Nova geração – Para as operadoras de telecomunicação, o envio de mensagens e de multimídia é uma ponte que o consumidor deve atravessar para a terceira geração (3G)s, novidade lançada em outubro no Japão, que transmite áudio, dados e vídeo a alta velocidade. O preço é salgado. A NTT DoCoMo cobra dos assinantes no mínimo US$ 160 por mês. É muito dinheiro mesmo para a classe média do Primeiro Mundo. A lógica das empresas européias é usar e abusar do MMS para fisgar o consumidor, facilitando sua migração para os serviços 3G, que estréiam na Europa e nos EUA em 2002 (e no Brasil só em 2004). O futuro das operadoras européias depende dessa migração, pois a British, a Deutsche e a France Telecom, entre outras, empenharam US$ 100 bilhões apenas na compra das licenças 3G. Outros US$ 100 bilhões serão gastos na implantação das novas redes. Se a terceira geração não for um sucesso, essas empresas correm o risco de quebrar.

Outro caminho para as operadoras aumentarem seu faturamento é convergir mobilidade e entretenimento. A Nokia inaugurou esse filão na Europa com o terminal 5510, ainda sem preço. Além de celular, sintoniza rádio FM, envia mensagens de texto e parece um Game Boy da Nintendo. Vem com cinco jogos, toca arquivos MP3 e memoriza até duas horas de música. O usuário pode conectá-lo ao computador para copiar faixas de CDs e, com o fone de ouvido, jogar games enquanto ouve rádio. É um aparelho posicionado no limiar entre os celulares e os computadores, que deverá chegar ao Brasil no ano que vem. Os clientes mais abonados deverão cruzar essa fronteira e adquirir, a partir de 2002, terminais integrados com computadores de bolso. A Handspring lança nos EUA, no primeiro semestre de 2001, dois aparelhos GSM baseados num sistema operacional Palm. O Treo 180 (US$ 399 ou R$ 1 mil) terá monitor monocromático, teclado alfanumérico para serviço SMS, programa de e-mail compatível com o Microsoft Exchange e navegador na web.

Sem disputa

João Paulo Nucci

No calendário estabelecido para a privatização das telecomunicações, 2002 seria o ano da abertura irrestrita do mercado. Até então limitadas a áreas geográficas, as empresas do setor poderiam, finalmente, quebrar essas barreiras e vender qualquer serviço, em qualquer lugar. O preço final para o consumidor despencaria, numa guerra de mercado benéfica para todos. Tudo isso foi adiado para 2006.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) decidiu atrasar o cronograma para ajustar as necessidades de competitividade do mercado com a realidade das empresas do setor, que enfrentam uma crise internacional, agravada no Brasil com o dólar caro e o aumento da inadimplência. Em 2002, apenas as cidades com mais de 500 mil habitantes deverão ter concorrência. A Anatel pretendia exigir investimentos em telefonia fixa em todos os municípios com mais de 200 mil pessoas, mas foi vencida pela pressão das companhias. Investimentos em cidades menores são menos rentáveis, o que assusta as empresas.

As teles choram pelas expectativas financeiras frustradas. A Embratel (controlada pela americana Worldcom) contabiliza um prejuízo de R$ 267 milhões até setembro, apesar de administrar uma rede de serviços que atinge todo o Brasil. O País fechará o ano com quase 45 milhões de telefones fixos, o dobro do número existente há três anos. A explosão de oferta aconteceu à custa de investimentos astronômicos e perspectivas de lucro fácil. A realidade econômica do País atropelou os planos. Agora, a conta está sendo paga com o adiamento da concorrência.