Mais de um ano de investigações, um relatório final de 1.600 páginas e uma inédita devassa nas entranhas do futebol brasileiro, que resultou no indiciamento de 17 pessoas. O time reúne desde cartolas, como o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, acusado de ter causado prejuízo de R$ 25 milhões à CBF no ano passado, um dirigente do Vasco, deputado Eurico Miranda (PPB-RJ), até um técnico de futebol, Vanderlei Luxemburgo, acusados de crimes como apropriação indébita, sonegação, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, gestão temerária e falsidade ideológica, entre outros. Esse foi o resultado da CPI do Senado sobre o futebol brasileiro, encerrada na quinta-feira 6 com a aprovação, por 12 a 0, do relatório elaborado pelo senador Geraldo Althoff (PFL-SC). "Quando começamos o trabalho, não imaginávamos que existiam tantos ilícitos e crimes", afirmou Althoff.

O mar de lama também impressionou o presidente da CPI, Álvaro Dias (PDT-PR). "Descobrimos uma verdadeira seleção de crimes, mostrando desorganização, anarquia, incompetência e desonestidade", atacou Dias. A bola, agora, está com o Ministério Público, a Receita Federal, o Banco Central, o Tribunal Superior Eleitoral, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras e a Câmara dos Deputados. O alvo da Câmara é Eurico Miranda, acusado de crime eleitoral e de ter se apropriado de R$ 20 milhões do Vasco. Ele se agarra à imunidade parlamentar para escapar da Justiça. Mas sua situação piorou muito com as mudanças na imunidade aprovadas pelos deputados. "Pelo que vi, as possibilidades de abertura do processo de cassação são grandes", afirmou o deputado Barbosa Neto (PMDB-GO), corregedor-geral da Câmara.

A CPI escalou um verdadeiro time dos pesadelos da roubalheira no futebol. As estrelas são, além de Teixeira e Eurico, os presidentes das federações do Rio de Janeiro, Eduardo Viana (o Caixa D’Água), de São Paulo, Eduardo José Farah, de Minas Gerais, Elmer Guilherme, e o presidente do Flamengo, Edmundo Santos Silva. Completam o time titular o ex-presidente do Flamengo Antônio Augusto Dunshee de Abranches, o ex-presidente do Santos Samir Abdul-Hak, o secretário-geral da CBF, Marco Antônio Teixeira, o ex-presidente do Vasco Antônio Soares Calçada e o vice-presidente de finanças do Vasco, Mário Cupello. Como técnico, Vanderlei Luxemburgo, acusado de sonegar ao Imposto de Renda nada menos que R$ 10 milhões. Os reservas são José Carlos Salim, diretor da CBF, Paulo Reis, vice-presidente jurídico do Vasco, Pedro Yves Simão, vice da Federação Paulista, e José Paulo Fernandes, vice do Santos. Geraldo Althoff pretende enquadrar os dirigentes de clubes e federações na Lei de Responsabilidade Fiscal. A CPI quer deixar uma marca mais duradoura que o indiciamento dos 17 citados no relatório. Os senadores pretendem criar uma lei de responsabilidade esportiva e uma agência reguladora do esporte nos moldes da Anatel e da ANP.