000_Par6461333.jpg

 

 
O Conselho Nacional de Transição (CNT) ofereceu nesta quarta-feira (24) uma recompensa de 1,6 milhão de dólares pela cabeça do coronel Muamar Kadhafi vivo ou morto. "O CNT apoia a iniciativa de empresários que estão oferecendo dois milhões de dinares pela captura de Muamer Kadhafi, vivo ou morto", declarou Mustafa Abdel Jalil em Trípoli.
 
Além disso, uma liderança do CNT afirmou nesta que a entidade oferecerá anistia a qualquer pessoa que capturar ou assassinar o coronel Muamar Kadhafi, informa a agência Reuters. O paradeiro de Kadafi é desconhecido após os rebeldes terem tomado o seu quartel-general em Trípoli na terça-feira. Contudo, uma rádio divulgou um áudio do líder líbio em que ele afirmou que abandonou o complexo em uma retirada estratégica. 
 
Símbolos de poder
 
Um rebelde armado coloca o pé sobre a cabeça dourada desmontada de uma estátua de Kadhafi, outro mostra um fuzil apreendido em um dos edifícios do gigantesco complexo do líder líbio. "As forças de Kadhafi os utilizavam para nos matar", afirma, mostrando sua pilhagem.Pouco depois de conseguir penetrar, na terça-feira à tarde, em Bab al-Aziziya, residência de Muamar Kadhafi em Trípoli, algumas centenas de rebeldes se precipitaram sobre os edifícios em uma explosão de alegria, destruindo todos os símbolos do poder desonrado.
 
Um jovem rebelde, empoleirado na escultura de uma mão empunhando um avião, também tenta destruir este símbolo dos ataques americanos em Trípoli em 1986. A bandeira verde do regime é sistematicamente substituída pela da rebelião: vermelha, preta e verde com uma meia lua e uma estrela no meio. Os retratos de Kadhafi também são destroçados.
 
Os rebeldes mostram especial alegria quando descobrem um arsenal de armas e exibem como pilhagem de guerra até os carros de golfe que Kadhafi utilizava para passear com seus convidados por sua casa. Quando os disparos dão uma pausa, os rebeldes expressam sua alegria ao grito de "Allah akbar" (Alá é grande). Mas ninguém sabe onde Kadhafi está e os rebeldes reconhecem que não encontraram nem rastro dele, nem de seus dois filhos, na residência. "Vencemos a batalha militar. Fugiram como ratos", afirma o comandante dos rebeldes, Abdelhakim Belhaj.
 
"Hoje é o fim", resume um rebelde chamado Mohammed. "Hoje a Líbia é livre". "Bem-vindo à Líbia libertada. Agora vamos construir a democracia", acrescenta outro miliciano. Com a chegada da noite, muitas pessoas, armadas ou não, percorrem a residência a pé ou de carro, mas em Benghazi, "capital" da rebelião, é solicitado aos civis que permaneçam afastados, para que os combatentes façam uma vistoria exaustiva da residência.
 
Pouco depois, ao menos cinco obuses caem sobre o complexo, obrigando-os a se esconder entre as ruínas. Segundo Akram, combatente rebelde, o ataque procede do bairro de Abu Slim, um dos últimos a mostrar fidelidade a Kadhafi. "Vamos rodeá-los de manhã e, se Deus quiser, vamos tomá-lo. Depois, devemos tomar o controle da estrada para o aeroporto", explica. "Mas hoje, estamos em festa. É uma grande vitória. Digo a todos os ditadores do mundo: abandonem o poder e deixem seus povos viver em liberdade", acrescenta.
 
Toda a cidade explodiu de alegria com o anúncio da tomada da residência. Após a ruptura do jejum do Ramadã, famílias inteiras percorrem a cidade de carro, buzinando e exibindo a bandeira tricolor em sinal de alegria. "Somos livres", gritam muitas mulheres em seus carros. 
Em uma mensagem sonora, Kadhafi voltou a aparecer em cena para dizer que abandonou "por razões táticas" sua residência, embora muitos tripolitanos não tenham escutado o que tinha a dizer, já que diversos bairros da capital seguem sem eletricidade.
 
Hotel Rixos
 
Quase 30 jornalistas estrangeiros, incluindo o correspondente da AFP, permaneciam retidos nesta quarta-feira no hotel Rixos, que fica a um quilômetro do complexo residencial de Muamar Kadhafi tomado pelos rebeldes. Boa parte dos soldados armados que vigiavam os jornalistas no hotel Rixos desapareceram após o ataque ao quartel-general de Kadhafi, deixando para trás alguns homens armados à paisana.
 
Vestidos com coletes à prova de balas e capacetes, os jornalistas estão no primeiro andar do hotel. A energia elétrica foi restabelecida, mas não há serviço de água. Os repórteres não sabem o que acontecerá nos próximos dias, caso os rebeldes se aproximem do hotel. Por isto, colocaram cartazes na fachada com as palavras "TV, Imprensa" "Imprensa. Não atirem".
 
Durante a manhã, alguns jornalistas tentaram sair do hotel, que fica no centro da cidade, e caminhar por alguns metros, mas os disparos começaram e homens armados ordenaram o retorno. Os repórteres também afirmaram ter visto francoatiradores. Na terça-feira, o hotel foi alvo de balas perdidas no momento em que o QG de Kadhafi caiu nas mãos dos rebeldes.
 
Entenda
 
Motivados pelos protestos que derrubaram os longevos presidentes da Tunísia e do Egito, os líbios começaram a sair às ruas das principais cidades do país em fevereiro para contestar o coronel Muamar Kadhafi, no comando desde a revolução de 1969. Rapidamente, no entanto, os protestos evoluíram para uma guerra civil que cindiu a Líbia em batalhas pelo controle de cidades estratégicas de leste a oeste.
 
A violência dos confrontos gerou reação do Conselho de Segurança da ONU, que, após uma série de medidas simbólicas, aprovou uma polêmica intervenção internacional, atualmente liderada pela Otan, em nome da proteção dos civis. No dia 20 de julho, após quase sete meses de combates, bombardeios, avanços e recuos, os rebeldes iniciaram a tomada de Trípoli, colocando Kadafi, seu governo e sua era em xeque.