quebicho1_86.jpg

BRILHANTE Biólogos “fizeram” uma borboleta que brilha no escuro e um bicho-da-seda que produz linhas coloridas

Se não os reconheceu, olhe novamente. À primeira vista o gato que está nesta página e brilha no escuro pode parecer uma exótica luminária, mas, acredite, é um gato legítimo – toma leite e adora perambular em telhados. O resultado brilhante foi alcançado por Kong Il-keun, especialista em clonagem na Universidade Nacional de Gyeongsang, na Coréia do Sul – ele produziu três gatos da raça angorá turca com genes modificados para proteína fluorescente (RFP, na sigla em inglês). O experimento, que a princípio pode parecer sem sentido e bizarro, trata-se, na verdade, de um importante avanço para a medicina. “É a primeira vez que conseguimos produzir gatos clonados com genes manipulados. Isso poderá ser aplicado em estudos com células-tronco e no tratamento de doenças genéticas”, diz Il-keun. Segundo ele, os gatos têm cerca de 250 tipos de doenças que também afetam o homem. Assim como os bichanos da Coréia do Sul, outros animais vêm tendo os seus genes manipulados para auxiliar a ciência na luta pela melhoria da qualidade da vida humana. A experiência é tão fantástica que levou grandes especialistas, como o geneticista chinês Bruce Lahn, a decretar que a criação de animais em laboratório representa o fim da teoria evolucionista proposta por Charles Darwin no século XIX. Lahn diz que a era da evolução natural acabou. Entramos na era da manipulação das espécies.

quebicho2_86.jpg

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

TRANSPARENTE A mudança de genes fez os órgãos do sapo ficarem visíveis através da pele

A evolução biológica baseia-se nas idéias do naturalista britânico Charles Darwin. Acompanhando as mudanças nas características de vida de alguns animais, Darwin constatou que a seleção natural é o motor da linha evolutiva. Mas eram outros tempos. Hoje, o mundo sem fronteiras aberto pela genética faz com que especialistas como Lahn acreditem que animais constantemente modificados e clonados em laboratório não dependam mais das leis da natureza para nascer e se desenvolver. A sua teoria tem respaldo prático ao se analisar os últimos “produtos genéticos” criados por cientistas de diversos países.

No Hospital Infantil de Boston, nos EUA, Richard White pensou em fazer de um peixe seu laboratório vivo para estudar o câncer. Ele explica que nesse tipo de pesquisa o método convencional de dissecação de um animal não é satisfatório: “É como tirar uma foto quando se precisa de um vídeo.” Os cientistas ainda não sabem ao certo o que leva um tumor cancerígeno a se espalhar para outras partes do corpo. Para estudar o desenvolvimento dessa doença, White pensou em acompanhar a evolução do tumor através da pele do animal, sendo necessário criar um peixe transparente. Isso foi possível quando ele cruzou duas variedades do peixe paulistinha gerando uma terceira espécie sem pigmentos no corpo. Com a experiência conseguiu novas informações sobre as células do tumor de pele (melanoma).

 

quebicho3_86.jpg

FLUORESCENTE Os gatos manipulados na Coréia do Sul mudam de cor sob a luz

Assim como White, outros cientistas pensaram em desenvolver animais sem pigmentos para observar os órgãos. Um dos mais raros produzidos em laboratório foi o sapo transparente. Parecendo ser de plástico, a criação é do pesquisador japonês Masayuki Sumida, que obteve a nova espécie ao acoplar uma determinada proteína responsável pela pigmentação da pele a um trecho do DNA, e, depois, inoculá-la no sapo. “Ele mantém-se transparente até a idade adulta, podendo ter os órgãos minuciosamente estudados”, diz Sumida.

Seguindo a mesma linha de raciocínio de Lahn e sepultando a teoria da evolução, pesquisadores da Universidade de Buffalo, nos EUA, criaram uma borboleta que brilha no escuro. Para tanto, bastou inserir no inseto um gene de um microorganismo que vive na água. “Nosso estudo é a demonstração de manipulação evolutiva em borboletas nas quais novos genes são injetados em embriões e permanecem ativos nas gerações seguintes”, diz Antonia Monteiro, professora de ciências biológicas da Universidade de Buffalo. “Estamos mudando a forma de como essa borboleta sobrevive e se transforma através dos tempos”. Com o mesmo tipo de experimento, biólogos e geneticistas da Universidade Nacional de Taiwan “montaram” três porcos transgênicos completamente verdes (incluindo todos os órgãos).

quebicho4_86.jpg

TRANSGÊNICO Pesquisadores de Taiwan “montaram” porcos que são totalmente verdes

Se o objetivo final dos pesquisadores não for o avanço da medicina, eles podem se valer de seus conhecimentos genéticos para interferir até mesmo no universo da moda. Na Universidade de Tóquio, por exemplo, o cientista Takashi Sakudoh manipulou os genes de bichosda- seda para que eles produzissem fios vermelhos, amarelos e verdes – cores que, naturalmente, não produzem. “As cores da seda resultam de pigmentos naturais, absorvidos quando os bichos comem as folhas de amoreira. Por isso as cores naturais são pouco vibrantes e padronizadas”, diz Sakudoh. Ele buscou novos caminhos em laboratório para “evoluir” o bicho-daseda, permitindo que ele não dependesse somente das folhas que estão na natureza para gerar os tons de seus fios. Talvez Darwin reprovasse todas essas experiências, mas essa é a escada da vida. Ou seja: a evolução das espécies cedeu lugar à manipulação dos genes. Também as teses evoluem.


/wp-content/uploads/istoeimagens/imagens/mi_2902071810543942.jpg

LABORATÓRIO VIVO Americanos criaram um peixe transparente para estudar o desenvolvimento do câncer no organismo


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias