O presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), foi surpreendido em sua casa, em outubro, quando almoçava com o governador do Ceará, o tucano Tasso Jereissati. Recebeu a visita do amigo João Roberto Marinho, um dos vice-presidentes das Organizações Globo. Tasso, também amigo de João Roberto, se preparava para disputar com o ministro da Saúde, José Serra, a indicação do PSDB como candidato a presidente da República. Logo, a conversa enveredou para a visão do empresário sobre a disputa. João Roberto foi claro: para a família Marinho, tanto fazia Tasso, Serra ou qualquer outro. A idéia era apoiar o candidato do governo. Naquela altura, ele, como toda a elite empresarial, não acreditava que a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, emplacaria sua candidatura pelo PFL. Quanto ao PT, não há preconceito nem vetos, mas uma questão de pragmatismo. “O Lula é uma ameaça ao crescimento econômico. E isso não nos interessa”, disse João Roberto.

Essas opiniões não são novidade para o economista e deputado Aloízio Mercadante (PT-SP). “Já nos damos por felizes em ter rompido os vetos. Mas não contamos com o apoio de grandes empresários, nem dos banqueiros”, afirma Mercadante. “O sistema financeiro, por exemplo, prefere o candidato do governo porque o lucro líquido dos bancos só com o populismo cambial foi de R$ 8 bilhões”, afirma o deputado. O último encontro de Lula com empresários foi na sede do Instituto de Estudos e Desenvolvimento Industrial, que congrega pesos pesados como Paulo Cunha, Eugênio Staub, Jorge Gerdau Johannpeter e Ivoncy Ichope, entre outros. Lula, após uma exposição inicial, não respondeu às indagações dos empresários, preferindo escalar os assessores que levou para o encontro. “Não há susto com o Lula. Se ele for presidente, toca-se o País. Lula é inteligente, mas não é preparado” – resume o presidente da Confederação Nacional das Indústrias, senador Fernando Bezerra (PTB-RN). “A alternância do poder seria ótima se fosse com um candidato com visão de mundo mais consistente” – emenda o senador e empresário Pedro Piva (PSDB-SP). Mas, enquanto o PT concluiu que não adianta disputar o apoio dos grandes empresários, no seio dos partidos governistas a principal questão antes da eleições de outubro é exatamente saber qual candidato terá o apoio das chamadas elites na disputa contra Lula.

Serra – depois que Tasso desistiu de concorrer – e Roseana Sarney, agora consagrada pelas pesquisas como candidata do PFL, vão brigar pelo apoio do PIB brasileiro. Não conheço uma eleição para presidente que tenha sido ganha sem o apoio da elite”, afirma o deputado Maurílio Ferreira Lima (PMDB-PE). Se dependesse dos banqueiros, Serra estaria eleito. Ele conta com uma intensa campanha do presidente do Itaú, Olavo Setúbal, e da família Moreira Sales, do Unibanco. O mais discreto é o dono do Bradesco, Lázaro Brandão. Já Roseana acredita que irá conquistar o setor por intermédio do irmão do presidente do PFL, Jorge Bornhausen, Roberto Bornhausen. Ele é ex-presidente da Federação Brasileira dos Bancos.

Na área industrial, de acordo com um levantamento informal feito por Fernando Bezerra para a ISTOÉ, hoje há uma ligeira vantagem de Serra sobre Roseana. Duas federações estaduais apóiam Ciro Gomes (Paraíba e Paraná). A federação mineira deve apoiar o PT, caso o senador José de Alencar (PL-MG) venha a ser o vice na chapa de Lula. As candidaturas de Itamar Franco e Garotinho não são mais consideradas pelos empresários. As demais federações estão com Serra ou Roseana. O que assusta no ministro da Saúde é seu estilo autoritário. Ele causou mal-estar em uma recente reunião com empresários, na qual disse que faria a reforma tributária “sem ouvir ninguém”. Roseana é tratada como uma incógnita. “O setor privado ainda terá de ser conquistado por ela” – sintetiza o presidente do grupo Klabin, senador Pedro Piva. Segundo ele, o que todos empresários esperam ouvir dos candidatos são compromissos com o fortalecimento da empresa nacional, incentivos à exportação e uma política industrial definida. Nos próximos dias, a CNI lança a “agenda da indústria para o próximo governo”, que será debatida em abril e maio. “As taxas de juros são pornográficas. Não existe país forte com indústrias fracas. Não podemos mais ficar à mercê dos bancos e das empresas estrangeiras”, resume Piva. Segundo ele, os empresários só vão se posicionar em março, quando todos os partidos já terão oficializado seus candidatos.

Se o PMDB cumprir o que prometeu, as prévias do partido acontecerão no dia 17 de março entre o governador mineiro Itamar Franco e o Senador Pedro Simom (RS), o que poderá mudar o quadro atual. Na fragmentada cúpula peemedebista, no entanto, ninguém acredita na candidatura de Itamar. “Ele já era”, provoca o líder na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Geddel e o ex-assessor palaciano Moreira Franco (RJ) apostam em José Serra. Outra ala do PMDB cresce os olhos para Roseana. Esse segmento é capitaneado pelo próprio pai da candidata, o ex-presidente José Sarney (AP), que está promovendo uma discreta aproximação de Roseana com o líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), e o ex-tucano Sérgio Machado (CE). Um terceiro setor do PMDB ainda acredita no surgimento de outro nome tucano, caso Serra não decole nas pesquisas: Aécio Neves (PSDB-MG). Até agora uma coisa é certa: Fernando Henrique Cardoso quer evitar ao máximo que o governo fique fraco e sem base. Só assim, poderá eleger seu sucessor.