Harry Potter é agora um rapazote
de 15 anos, com características típicas
da idade: impaciência, incertezas e
algum grau de rebeldia. Em Harry Potter e a Ordem da Fênix (Rocco, 704 págs.,
R$ 59,50) – quinto livro da aclamada série escrita pela escocesa J. K. Rowling, que chega às livrarias brasileiras no sábado 29 –, o encanto pueril dos primeiros anos vividos na Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts se esvai pouco a pouco. Agora, o adolescente sente raiva de colegas e professores, briga com os amigos inseparáveis Rony Weasley e Hermione Granger e até dá seus shows. “Eu já tive o suficiente, já vi o suficiente. Não me importo mais”, grita ele, num dos vários acessos de fúria que tem ao longo da história. Mas o garoto também cede ao coração, troca o primeiro beijo e conquista uma bela namorada. Ou seja, Harry Potter está com as emoções à flor da pele.

Uma das razões para explicar tanta sensibilidade é o fato de que poucos acreditam no retorno do bruxo mais terrível do mundo, aquele que matou os pais de Potter e lhe deixou uma cicatriz em forma de raio na testa. Lord Voldemort, Lord das Trevas ou, para os íntimos da série, Você-Sabe-Quem, volta à ativa após anos vivendo como um parasita. Aos que não acompanham a ficção, vale o esclarecimento. O vilão, uma espécie de Darth Vader, é o pior inimigo de Potter. Assim como o anti-herói de Guerra nas estrelas, o bruxo se dedica ao lado negro da magia. Teria dominado seus pares se não tivesse virado pó ao ser atingido por um contrafeitiço que protegia o garoto quando este ainda era um bebê. É assim que se inicia a saga do aprendiz de feiticeiro.

Rowling prossegue mostrando, livro após livro – Harry Potter e a pedra filosofal, Harry Potter e a câmara secreta, Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban e Harry Potter e o cálice de fogo –, os esforços de Voldemort em ressurgir com plenos poderes. Neste ponto, o do renascimento, se encerra o quarto livro.

A quinta aventura do jovem bruxo começa com muita ação. O mundo dos trouxas, como são chamados os comuns mortais, é invadido por alguns dos seres fantásticos inventados por Rowling. A passagem é breve, mas causa transtornos bastante desagradáveis a Potter. Na escola, as complicações se sucedem. O comando de Hogwarts sai das mãos do compreensivo diretor Alvo Dumbledore e fica a cargo de uma inquisidora. É uma mulher impiedosa, com incrível disposição para editar atos institucionais que infernizam a vida dos estudantes. A ditadura instaurada, no entanto, propicia um dos momentos mais fascinantes da história. Quem nunca pensou em escapar da escola um dia? Os divertidos gêmeos Fred e Jorge Weasley realizam este desejo de modo espetacular. Impossível não se deliciar com a fuga.

Mistérios – Doses de humor funcionam como aperitivo, mas o melhor mesmo está no drama. Nas páginas de A Ordem da Fênix se estabelece a guerra que apenas se desenha em O cálice de fogo.
Nesta fase, os bruxos do bem se confrontam com os do mal. Seguidores de Voldemort formam um pequeno exército batizado de Comensais da Morte, algo como uma Ku Klux Klan de varinhas mágicas. E os do bem se organizam numa sociedade secreta, a tal Ordem da
Fênix. Impossibilitados de entrar no grupo, os adolescentes formam
seu próprio clube da luta. Com direito a muitas maldições, o combate
faz a adrenalina atingir seu ápice. Todo harrypottermaníaco sabe que Rowling adora uma boa batalha, seja contra uma cobra gigantesca, um dragão enfurecido, seja qualquer criatura do mundo da magia. Outro ponto alto do enredo é o capítulo subsequente ao confronto, quando, numa conversa, Potter e Dumbledore esclarecem mistérios estabelecidos desde o primeiro livro. Entre a contenda e as revelações, acontece o momento que custou lágrimas à escritora: a morte de um personagem importante. “Quando se escreve para crianças, é preciso ser um assassino cruel”, disse ela, depois de passar por uma crise achando que não conseguiria terminar a história.

Justamente por estes ingredientes, os livros de J.K. Rowling têm atraído uma numerosíssima legião de leitores por todo o planeta, entre crianças e adultos. Estima-se
que a série traduzida para 55 idiomas já vendeu cerca de 200 milhões de exemplares em 200 países. Só no Brasil foram 1,5 milhão. Um sucesso absoluto de público. E de faturamento. Somada às bilheterias dos filmes Harry Potter e a pedra filosofal e Harry Potter e a câmara secreta, em torno de US$ 1,8 bilhão, mais o merchandising deste mundo de ouro, a renda obtida pela escritora a transformou numa das mulheres mais ricas do Reino Unido. O jornal britânico The Sunday Times avalia em US$ 442 milhões a fortuna de J.K. Rowling, 11 vezes maior do que a da rainha Elizabeth II.

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Harry Potter e a Ordem da Fênix é mais um toque desta versão escocesa de Midas. Para seu lançamento, em junho passado, foi desenvolvida uma ação de marketing como nunca se viu nas artes literárias. Programaram-se festas, concursos de fantasias e sessões de leitura. Ansiosos pela sequência – afinal, a espera durou três anos –, os fãs entupiram de pedidos o site da livraria virtual Amazon. Na pré-venda, a empresa registrou 1,3 milhão de solicitações, quase três vezes mais do que ocorreu com Harry Potter e o cálice de fogo. Mesmo protegidos por forte esquema de segurança, às vésperas de chegar às prateleiras mais de sete mil exemplares tinham sido roubados de um caminhão na Inglaterra. A carga não foi encontrada. Antes, um funcionário de uma gráfica tentara vender páginas avulsas do livro para um diário inglês sensacionalista. Foi pego e condenado a prestar serviços comunitários por seis meses. Nos Estados Unidos, algumas edições e trechos surrupiados foram publicados, e toda sorte de boatos, principalmente envolvendo a morte de um dos personagens, rodou pela internet enquanto o tão aguardado título não desembarcava nas livrarias.

No Brasil, a legião de fãs do menino bruxo não aguentou esperar a chegada da edição nacional e mergulhou direto nos originais em inglês. O estudante Allan Mascarin, 15 anos, morador de Campinas esteve entre aqueles que tentaram ler The Order of Phoenix. Mas logo se rendeu ao cansaço. Como usava um daqueles absurdos programas de tradução da internet, desistiu logo no terceiro capítulo. “Só o primeiro capítulo já é melhor que os livros anteriores inteiros”, afirma. Mais bem-sucedida foi a adolescente gaúcha Carolina Moraes, que adquiriu seu exemplar em inglês um dia depois do lançamento mundial. Devorou-o em duas semanas e meia, com a ajuda de sua professora de inglês, que traduzia para ela as expressões mais difíceis. “A J.K. foi má. Matou meu personagem favorito”, reclama. Episódios como esses prometem se repetir nos próximos anos. A escritora, ou J.K. para íntimos como Carolina, está preparando o sexto volume e – muito aflita – já deve estar pensando num novo calvário que enfrentará para encerrar sua saga com o sétimo livro da série. A autora certamente vai estar desgastada. Mas, se quiser, pode literalmente se deitar pelo resto da vida numa cama de dólares.

 

O novo episódio da saga milionária

Não são apenas os livros da série Harry Potter que criam expectativa entre seus fãs. Os filmes também. Depois de dois sucessos de bilheteria dirigidos por Chris Columbus, o mexicano Alfonso Cuarón – de E sua mãe também – assumiu o risco de dirigir a terceira fita, Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban, cuja estréia mundial está prevista para junho de 2004. O longa-metragem conta as aventuras do menino bruxo em seu terceiro ano na Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts. Traz de volta a trinca de atores adolescentes Daniel Radcliffe (Potter), Emma Watson (Hermione Granger) e Rupert Grint (Rony Weasley). Também retornam a excepcional Maggie Smith e Alan Rickman, respectivamente nos papéis dos professores Minerva McGonagall e Severo Snape. Dos personagens já conhecidos do público, Alvo Dumbledore é agora interpretado pelo inglês Michael Gambon. Ele substitui Richard Harris, falecido no ano passado.

Cuarón está correndo contra o tempo para poder cumprir os
prazos. Comenta-se que em O prisioneiro de Azkaban os efeitos especiais serão ainda mais mirabolantes do que os do filme
anterior, visto por 4,5 milhões de brasileiros, número semelhante
ao de A pedra filosofal. Há uma grande curiosidade em torno dos dementadores, seres sem rosto e de aspecto fúnebre que guardam
a fortaleza de Azkaban, um presídio de segurança máxima. Ou quase. É de lá que foge o temido Sirius Black. O papel do proscrito coube a Gary Oldman, que declarou ser este o melhor da série nas telas até o momento. Enquanto as filmagens seguem a toda, os produtores já preparam o caminho para a produção de Harry Potter e o cálice de fogo. Desta vez, a direção caberá ao inglês Mike Newell, de Quatro casamentos e um funeral. Newell foi convidado a comandar o quarto longa porque as filmagens começam em abril, quando Cuarón ainda estará concentrado em Azkaban.


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