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Uma das seis netas do presidente do Senado, a advogada Maria Beatriz Brandão Cavalcanti Sarney tornou-se personagem dos escândalos que atingem seu avô José Sarney ao ser flagrada por escutas da Polícia Federal. Bia, como é conhecida, entrou no olho do furacão ao pedir ao pai, Fernando Sarney, um emprego no Senado para o ex-namorado Henrique Dias Bernardes. Ela própria recebeu uma ajuda do avô, em 2004, quando ganhou uma vaga de assessora internacional no Superior Tribunal de Justiça.

"Atendi, sim, a um pedido do Sarney para botar a Beatriz no STJ, cumpro a minha palavra", confirma o ex-presidente do STJ Edson Vidigal. "Eu não me arrependo, a menina é muito competente e estão fazendo uma injustiça com ela", diz o ex-ministro. Em entrevista à ISTOÉ, Bia afirma que se saiu bem em suas funções e nega que tenha se utilizado do sobrenome para conquistar qualquer privilégio. "Não sou a filhinha de papai idiota que pintam por aí, que vive dependendo de favores. Isso não corresponde à realidade", diz. Ela conta que foi acusada até de não possuir diploma universitário quando entrou no STJ.

"Eu era pós-graduada", explica. "Sou advogada, fico chateada com essas coisas, minha profissão requer muita discrição, muitos dos meus clientes não querem ver minha imagem vinculada a este tipo de notícia." Sobre o pedido que fez ao pai para encaixar o ex-namorado Henrique no Senado, ela diz que é outra injustiça. "Ele nem era meu namorado na época que foi contratado, é um menino inteligentíssimo, que se formou em física pela UnB, e estava precisando de uma oportunidade", diz. Para Bia, é "inexplicável" a sensação de ver seu nome envolvido no escândalo. "Você não sabe quanto isso interfere, mas não tenho medo, sei a profissional que sou, sei o que consegui pelos meus próprios méritos", defende.

"O que fazem hoje é transformar a reputação da pessoa numa calamidade." Sobre o avô, ela acha que a história fará justiça. "Meu avô está sendo extremamente injustiçado pelos seus próprios pares. Ele contribuiu muito para a formação política desse país." Apesar do envolvimento de seu nome no escândalo, Bia é apontada por amigos da família como a neta que menos gozou dos privilégios do clã. Ela é filha de Fernando com a procuradora Elisa Maria Brandão Cavalcanti e só ficou sabendo que era neta de Sarney na adolescência.

Aos 31 anos, não participa das festas da família no Maranhão, ao contrário das outras filhas de Fernando com Tereza Murad. Bia também é neta do ex-ministro do Meio Ambiente Henrique Brandão Cavalcanti e bisneta do constitucionalista Themístocles Brandão Cavalcanti. Na faculdade, defendeu uma tese sobre a cessão de jogadores profissionais dos clubes para as seleções, abordando o direito de imagem. "Ela foi aprovada com tranquilidade", diz o orientador Roger Stiefelmann Leal. "É uma garota aplicada." Bia deixou os ex-chefes impressionados.

"Ela valia muito mais pelo Brandão Cavalcanti do que pelo Sarney", brinca o jurista Délio Lins e Silva, que a empregou como estagiária e ganhou dela um livro do avô constitucionalista. "Estou com pena, esse negócio de pedir emprego complicou a vida da menina." Hoje, Bia trabalha no escritório de Luiz Antonio Bettiol. "Ela tem qualidades de uma boa advogada e é muito empenhada", elogia Bettiol. Fora do trabalho, Bia é uma moça alegre, sorridente, que adora sair à noite. Na Asa Sul, um dos locais que ela freqüenta é o pub irlandês O’Rilley.

O proprietário, Luiz Carlos Carvalho, se considera um "superamigo" de Bia e diz que ela é uma pessoa do bem. "Pedir emprego foi um deslize, uma coisa da cultura impregnada na cabeça das pes soas que moram em Brasília", critica Carvalho. "Acho que ela não queria botar o ex-namorado no Senado só para ele mamar nas tetas do poder. Isso não é de seu estilo". Os que convivem com Bia dizem que ela tem personalidade forte.

Quando Vidigal decidiu deixar o STJ em 2006 para se candidatar ao governo do Maranhão, entrou no lugar dele o ministro Rafael Monteiro de Barros Filho. Sua primeira providência foi baixar um ato exonerando 40 pessoas nomeadas por Vidigal. Bia estava na lista. Ela ficou furiosa por ficar sabendo da demissão pelo "Diário Oficial" e foi à secretária-geral do STJ, Ana Luísa, para reclamar: "É uma falta de respeito, ficar sabendo da demissão assim", esbravejou. "Isso é um absurdo." Naquele momento, sentiu na pele o peso de carregar o sobrenome Sarney.