Os repórteres de ISTOÉ Francisco Alves Filho e Hélcio Nagamine, autores da reportagem de capa desta edição, tiveram o triste privilégio de percorrer um trajeto que é reservado apenas aos mais desafortunados na vida. Eles fizeram uma peregrinação que normalmente é destinada àqueles milhões de brasileiros que não têm dinheiro nem para pagar planos de saúde nem hospitais e que dependem do Estado quando algo de ainda pior acontece em suas vidas.

Durante oito dias, os jornalistas da sucursal do Rio de Janeiro de ISTOÉ atravessaram os assustadores círculos da rede pública de saúde, em que
palavras como urgência e emergência têm significados diferentes daqueles encontrados nos dicionários. Como passageiros de Caronte, o barqueiro que
levou Dante e Virgílio ao inferno, em A divina comédia, de Dante Alighieri, os repórteres visitaram hospitais com carência de medicamentos, abundância de pacientes e ausência de atendimento em Belém, Salvador, Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro. E, nesse triste universo, se eles constataram que urgente significa adiável, também viram e registraram que a palavra dantesca tem o seu exato significado: o que Francisco Alves Filho e Hélcio Nagamine presenciaram e registraram em texto e fotos foi aterrador.

Esse caminho cruel percorrido pelos repórteres é um caminho desconhecido, em seus penosos detalhes, pelas classes mais favorecidas e esclarecidas do País. Mas é uma realidade que não pode ser ignorada por quem tem noção de cidadania. E também não pode ser aceita com cômoda passividade. Algo tem que ser feito. Alguém tem que ser cobrado. Alguém tem que ser punido.