(Multipla de Arte, São Paulo) – Cidade cinza por excelência, São Paulo aparece em cores vivas e vibrantes nos 20 trabalhos recentes do pintor paulista, que há pelo menos três décadas tem se dedicado a retratar a metrópole em ângulos sempre surpreendentes. À maneira do americano Edward Hopper, Gruber prefere revelar a cidade nas horas mortas, enquadrando ruas desertas banhadas por uma luz fantástica e irreal, como na tela Viaduto com cidade ao fundo, toda puxada para o verde. Em Xavier de Toledo ele persegue aquele tom azul-amarelado com que Van Gogh retratava os cafés parisienses. É o melhor exemplo para se comprovar a validade vencida do rótulo de hiper-realista com que sempre tentaram aprisionar Gregório Gruber. (Ivan Cláudio)

A um passo da eternidade

(Columbia Pictures) – Vencedor de oito Oscar, o drama de guerra, de 1953, dirigido pelo americano de origem austríaca Fred Zinnemann é um contraponto indispensável ao recente Pearl Harbor. Zinnemann retrata sem complacência o moral baixo dos militares, no período que antecedeu o famoso ataque japonês. Montgomery Clift dá um show no papel do soldado e ex-boxeador Prewitt. Ótimo também está o par romântico formado por Burt Lancaster e Deborah Kerr, responsáveis pelo antológico beijo na praia. O making of em cores, e sem legendas, traz uma entrevista com Zinnemann e longos comentários em áudio feitos pelo seu filho. (Ivan Cláudio)

Deus ex-machina e os super ex-heróis na terra impotente de viagra falls

(Teatro Sesc Copacabana, Rio de Janeiro) – A peça de Gerald Thomas reúne algumas qualidades do trabalho que ele apresenta há anos. O brilho mais forte, entretanto, vem da Cia. Pragma. Em texto de sua concepção, Thomas mostra a decepção com os super-heróis e ironiza e critica a perplexidade humana ao descobrir que a fragilidade é hoje uma característica globalizada. A pensata – que divertidamente permeia o espetáculo nada linear – partiu da tragédia do World Trade Center, que o diretor viu ruir da janela de sua casa, no Brooklyn. (Eliane Lobato)

Filho de Deus

(dia 16, às 21h, no Discovery Channel) – Nenhuma história é tão conhecida como a de Cristo. Portanto, nada mais delicado do que a realização de um documentário que confronte dogmas difundidos secularmente pelos cristãos. Mas o desafio foi cumprido com profissionalismo e respeito pelas equipes da BBC londrina e do Discovery Channel. Em nenhum momento o programa arranha a imagem divina de Cristo. Apenas recoloca em questão algumas evidências curiosas. Por exemplo: ele não teria nascido num estábulo como hoje se conhece, e sim num dos cômodos da casa de parentes de José; também não teria sido batizado no rio Jordão, mas numa piscina batismal; os cientistas igualmente contestam a imagem clássica de Cristo, dizendo que seu visual era bem outro. Sem se furtar das questões teológicas, o documentário ainda demonstra como Cristo assumiu seu papel de Messias e como lidou com o trágico e redentor destino. (Celso Fonseca)