Um jovem e astuto camponês, com fome de pão e conhecimento, encontra casualmente um rei que, de passagem pelos bosques da Itália, o acolhe em sua corte e o joga na mais fantástica das aventuras: a do desconhecido mundo do século XII. Este jovem é o personagem principal de Baudolino (Record, 462 págs., R$ 35), a mais nova obra do escritor italiano Umberto Eco, que retoma com muito bom humor a paixão pelas brumas que ainda encobrem a Idade Média.

Tema recorrente na obra de Eco, a Idade Média e seus muitos mistérios fascinam os leitores do século XXI tanto quanto as múmias e faraós do antigo Egito. Para começar, o enredo se desenvolve em capítulos curtos, com uma leveza que faz lembrar O nome da rosa. Mas a grande diferença a favor de Baudolino é que a fantasia é despudoradamente exibida como um compêndio do que era a cultura da época, uma fascinante mixórdia de fatos, mitos e temores repetidos à exaustão até tornar-se puro dogma.

Basicamente, o enredo se desenvolve em torno da caça ao Santo Graal por um grupo improvável de aliados de diferentes crenças e religiões. Na busca, o grupo nem sequer consegue um consenso a respeito do que está procurando. Para alcançar a relíquia máxima da cristandade, que legitimará os desmandos de um rei enfraquecido por conflitos internos de seu reino, os aventureiros peregrinos enfrentam feras e terras mitológicas, inventam suas próprias relíquias para consumo imediato e mostram as muitas faces que o conhecimento humano conseguia desenvolver na época. O que mais surpreende em Baudolino, no entanto, é que antes de mais nada se trata de uma história divertida e acessível, tanto para quem busca a erudição de Umberto Eco como para quem apenas quer ler uma boa aventura.