Na ampla sala, uma grande mesa está coberta de louça e cerâmica quebradas. Espalhados à sua volta, tubos de cola e rolos de fita gomada convidam os visitantes ao trabalho lúdico. O objetivo é simples. As pessoas devem tentar colar, emendar, enfim, consertar o que está espatifado. Não se trata de nenhuma terapia revolucionária ou maluquice de algum dono de loja. Na verdade, a proposta é fazer com que o público participe interativamente da instalação da artista multimídia Yoko Ono, em cartaz na galeria Arte Futura e Companhia, em Brasília. O tema Peça do remendar para o mundo (Mend piece for the world) retoma a preocupação da viúva do ex-beatle John Lennon com a paz mundial. Esta é a segunda vez que uma obra de arte de Yoko é apresentada no Brasil. Na primeira, em 1998, a natureza foi a personagem principal. Hoje, traumatizada com os atentados de 11 de setembro e com a consequente guerra no Afeganistão, Yoko decidiu que queria levar as pessoas a refletir sobre a necessidade de curar o mundo. Em entrevista a Graça Ramos e Evandro Salles, responsáveis pela exposição no Brasil, a artista afirmou: “Senti que o planeta precisava ser refeito. O World Trade Center era uma catedral do mundo ocidental, o dinheiro estava se tornando nosso deus contemporâneo. Agora, por algum tempo, teremos que viver e fazer negócios sem a catedral”, concluiu.

Para fazer o que chama de “cura do mundo”, Yoko imaginou um espaço no qual peças de louça e cerâmica de vários países e culturas diferentes seriam primeiro quebradas e depois espalhadas de forma ordenada, em mesas, onde as pessoas exercitariam sua capacidade de reconstruir o que estava destruído. Para o curador Evandro Salles, o objetivo da artista é instigar o público a uma ação objetiva, apesar de simbólica, ao consertar objetos do cotidiano. Além de estabelecer regras para o material a ser usado – que foi doado por várias embaixadas em Brasília e por pessoas interessadas na paz e na arte –, Yoko Ono também enviou instruções sobre o modo como todos devem se comportar no processo de remendo/cura dos objetos/mundo. “Keep wishing while you mend” (Fique desejando enquanto remenda), recomenda ela aos brasileiros. Cada vez que as peças expostas forem emendadas/curadas, um novo estoque de louça quebrada substituirá o antigo. A mostra, que vai até 26 de janeiro, ocorre simultaneamente em Nova York, Barcelona, Boston, Berlim, Helsinque, Copenhagen, Nice, Londres e Tóquio. Por um mundo curado. Nem que seja aos remendos.