Se depender do presidente Lula, a Copa do Mundo da Alemanha será um marco na história da televisão brasileira. Não apenas pelo brilho das estrelas do futebol. Até junho de 2006, o governo espera demonstrar o novo formato de televisão digital no País. Apesar de existirem três padrões mundiais, o japonês, o americano e o europeu, o Brasil optou por um caminho alternativo e criou seu próprio sistema, batizado de SBTVD.

Além da qualidade de imagem e de áudio próxima à do cinema, o novo formato permite enviar e receber dados pelo televisor, como se fosse um computador. Isso inaugura uma interatividade sem precedentes. Num programa de auditório, por exemplo, o telespectador poderia responder de sua casa às questões de um teste de QI. Bastaria selecionar a alternativa correta apertando um dos botões do controle remoto. A Universidade Federal de Santa Catarina criou até um programa para diagnosticar doenças familiares a partir do controle remoto.

Na tela, também seria possível escrever torpedos, acessar a conta bancária, enviar a declaração de Imposto de Renda e consultar o saldo do FGTS. “Não estamos reinventando a roda. O forte do sistema brasileiro é a mobilidade, a flexibilidade e a compatibilidade com os outros sistemas”, diz Marcelo Zuffo, professor do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica de São Paulo.

Zuffo fez a síntese da tecnologia desenvolvida por 22 consórcios, que mobilizaram 550 pesquisadores. O grande mérito do sistema brasileiro é a possibilidade de transmitir quatro programas num único canal de freqüência. Com quatro resoluções diferentes: a baixa, que envia imagens para computadores de mão (PDA) e celulares; a resolução padrão, para televisores analógicos comuns; a melhorada, com qualidade de DVD; e a alta definição, ou HDTV, na sigla em inglês.

O pulo-do-gato do sistema nacional é o terminal de acesso, que funciona como um decodificador de tevê a cabo, é comandado por controle remoto e se parece com o sistema operacional do computador. O sistema dispensa ainda a troca dos aparelhos antigos, o que torna possível aproveitar os quase 80 milhões de televisores espalhados pelo território nacional. O mercado de tevê digital, que inclui equipamentos de captação e de transmissão, está avaliado em US$ 10 bilhões.

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Apesar de o transmissor, o terminal conversor e os programas básicos serem brasileiros, o sistema conversa com os demais formatos, o que abre caminho para as emissoras exportarem programas e novelas. O governo brasileiro não pretende repetir com a tevê de alta definição o mesmo erro da tevê em cores. Na ocasião, no auge do regime militar, o País criou um sistema próprio de transmissão, o PAL-M, hoje usado apenas no Brasil e no Laos.

Agora, o governo estimulou a indústria local e os institutos de pesquisa a aperfeiçoar o que outros países já desenvolveram, à custa de bilhões de dólares. O prazo dado aos consórcios de pesquisa para entrega dos relatórios técnicos é 10 de dezembro. Se tudo der certo, o projeto será concluído até o fim do ano, mas a decisão final sobre o padrão adotado pelo País pode levar mais tempo. “Não dá para entender a razão de tanta pressa. Muitos setores da sociedade civil não foram ouvidos”, reclama Lucas Shirahata, da consultoria Paradigm. Tudo indica que, entre o Natal de 2006 e o Carnaval de 2007, os brasileiros vão poder encomendar seus programas favoritos para assistir na televisão de alta definição, calcula o engenheiro Marcelo Zuffo.


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