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O novo ministro da Agicultura, Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS), conversou nesta quinta-feira (18) com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT), após ser confirmado no cargo a pedido da presidente Dilma Rousseff (PT). O parlamentar gaúcho, que deixa vaga a liderança do governo na Câmara dos Deputados, afirmou que o convite foi feito na manhã desta quinta por telefone e disse que sua contribuição na pasta será mediante aprendizado. Ele rejeitou a ideia de "faxina" no ministério.
 
A Agricultura é alvo de denúncias, inclusive em órgãos subordinados, como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O deputado elogiou o ex-ministro Wagner Rossi (PMDB), que pediu demissão na noite dessa quarta após denúncias que o atingiram diretamente, e disse que vai tentar conversar com o antecessor ainda nesta quinta. "Faxina? Eu vou tratar de agricultura. Quem faz a investigação são órgãos investigativos, eu tenho que tratar da agricultura do País, eu tenho que falar de números, tenho que olhar para frente", disse o novo ministro.
 
"Responsabilidade é fundamental, vou ouvir muito e conversar com o Wagner (Rossi), que foi meu colega de bancada. Eu o admiro muito, ele fez um extraordinário trabalho. Acho que as coisas caminharam como deviam caminhar, não sou eu que vou estragar isso, agora tenho que ir com todo cuidado para fazer jus à confiança do meu partido e da presidente", disse Mendes Ribeiro Filho. O parlamentar afirmou estar "sensibilizado" com o apoio do PMDB, que indicou o deputado para o cargo ainda na noite de quarta, após reunião da bancada no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República, Michel Temer.
 
A primeira reunião de Mendes Ribeiro com a presidente deve ocorrer na tarde de amanhã, assim que Dilma retornar de São Paulo, para onde viajou na manhã desta quinta. A posse deve ser na próxima segunda-feira à tarde.
 
Mendes Ribeiro

 
Advogado de formação, o gaúcho Mendes Ribeiro Filho está em seu quinto mandato parlamentar consecutivo. Foi secretário de Estado das Obras Públicas, Saneamento e Habitação do Rio Grande do Sul e secretário Extraordinário para Assuntos da Casa Civil do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. É filiado ao PMDB desde 1985. Foi oficializado como o novo líder do governo no Congresso Nacional no dia 1º de julho.
 
A queda do ministro da Agricultura
 
Em decisão que surpreendeu a própria presidente Dilma Rousseff, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB), pediu demissão no dia 17 de agosto de 2011, após uma série de denúncias contra sua pasta e órgãos ligados a ela. Em sua nota de despedida, ele alegou que deixava o cargo a pedido da família e afirmou que todas as acusações são falsas, tendo objetivos políticos como a destituição da aliança de apoio à presidente e ao vice, Michel Temer.
 
No final de julho surgiram denúncias do ex-diretor financeiro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) Oscar Jucá Neto de que um consórcio entre o PMDB e o PTB controlaria o Ministério da Agricultura para arrecadar dinheiro. O denunciante é irmão do senador Romero Jucá, líder do governo no Senado, e foi exonerado após denúncia de que teria autorizado o pagamento de R$ 8 milhões a uma empresa "fantasma". Também surgiu a denúncia de que um lobista, Júlio Froés, atuaria dentro da pasta preparando editais, analisaria processos de licitação e cuidaria dos interesses de empresas que concorriam a verbas. O homem teria ligações com Rossi e com o então secretário-executivo do ministério, Milton Ortolan. Ambos negaram envolvimento, mas Ortolan pediu demissão em 6 agosto. Em seu lugar foi escolhido o assessor especial do ministro José Gerardo Fontelles, que acabou assumindo o lugar do próprio Rossi interinamente.
 
No dia 16 de agosto surgiu outra denúncia afirmando que Rossi e um filho sempre são vistos embarcando em um jato da empresa Ourofino Agronegócios. Conforme a publicação, o faturamento da Ourofino cresceu 81% depois que a empresa foi incluída como fornecedora de vacinas para a campanha contra a febre aftosa. O ministro admitiu que pegou "carona" algumas vezes na aeronave, mas negou favorecimento à empresa e disse que o processo para a companhia produzir o medicamento teve início em 2006, antes de ir para o ministério. Contudo, a Comissão de Ética da Presidência anunciou que iria analisar a denúncia. Por fim, no dia em que Rossi decidiu pedir demissão, o ex-chefe da comissão de licitação da pasta Israel Leonardo Batista afirmou que Fróes lhe entregou um envelope com dinheiro depois da assinatura de contrato milionário da pasta com uma empresa que o lobista representava. A Polícia Federal instaurou um inquérito para tratar o caso.
 
Imagens
 
Apontada como principal prova material que poderia ligar o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi (PMDB) ao lobista Júlio Fróes, as imagens do sistema de segurança do ministério estão sob a guarda de uma empresa ligada ao PMDB. A Juiz de Fora Vigilância Ltda. pertence a Nelson Ribeiro Neves, que é sócio do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) na Manchester Serviços Ltda., empresa que também tem contrato com o Ministério da Agricultura. Eunício é o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e tesoureiro do PMDB, que indicou o ministro da Agricultura.
 
Segundo o ministério, foram apagadas as imagens mais antigas do circuito interno da sede da pasta em Brasília, que poderiam confirmar as denúncias feitas pelo ex-presidente da Comissão de Licitação Israel Batista sobre a ação do lobista. Fróes é apontado como influente dentro do ministério, distribuidor de propina e organizador clandestino de licitações na pasta.
 
As imagens mais recentes das dependências da sede da Agricultura, e que ainda não foram apagadas, serão encaminhadas à Polícia Federal. Uma delas, conforme diz o próprio ministério, mostra Fróes chegando ao prédio pela entrada privativa, cumprimentando o segurança e logo depois saindo.
 
Não há informações se nas imagens haveria um possível encontro de Fróes com o ex-ministro. Pelo relato de Batista à Polícia Federal, Fróes entrava no prédio pela portaria privativa do ministro e seguia para os andares onde ficavam os gabinetes de Wagner Rossi e do ex-secretário-executivo Milton Ortolan, que pediu demissão.
 
Batista disse desconfiar que as imagens do sistema de segurança podem ser editadas ou apagadas na tentativa de livrar o ex-ministro das denúncias de envolvimento com o lobista. "As imagens são subordinadas ao ministro. Meu medo é que sejam cortadas. O problema é esse", afirmou antes do anúncio da demissão de Rossi. 


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