Nos meses de verão, a preocupação dos dermatologistas com as recomendações para ter cuidado com os estragos provocados pelo bronzeamento parece uma obsessão. Mas a insistência é necessária. Já se sabe que os raios ultravioleta do sol são o principal gatilho para o surgimento do melanoma, o mais agressivo de todos os cânceres da pele. E hoje diversos protetores barram essa radiação. Ainda assim, só a informação não basta. É o que alerta a física Sonia Pereira de Souza, de São Paulo. A pesquisadora fez uma revisão de estudos europeus e americanos para fundamentar sua tese de doutorado em saúde pública, aprovada no mês passado pela Universidade de São Paulo (USP). O resultado surpreende. “Os trabalhos mostram que pessoas com rendimento mais alto e nível sócio-econômico mais elevado apresentam maior risco de ter melanoma”, sustenta Sonia.

Com a revisão, também verificou-se uma tendência de aumento do risco de acordo com a escolaridade. Quanto maior a especialização, maiores as chances de ter melanoma. Uma das pesquisas, realizada nos Estados Unidos, indica que o perigo é ainda maior para homens com idade entre 30 e 69 anos. “A ameaça atinge pessoas que têm pele clara e comportamento de risco. Em geral, são profissionais que trabalham em locais fechados, como escritórios, gostam de lazer a céu aberto e adoram tomar sol”, diz a dermatologista Ediléia Bagatin, da Universidade Federal de São Paulo.

Uma das hipóteses que explicariam o maior risco dessa população, que tem acesso à informação e dinheiro para comprar protetor solar, é a crença de que o bronzeado ainda continua como sinônimo de status. A pele morena seria uma indicação de que a pessoa dispõe de mais tempo para o lazer e não precisa trabalhar muitas horas. Além disso, para 68% dos entrevistados de um estudo feito em Nova York, por exemplo, a pele bronzeada dá aparência mais saudável.

Por aqui, não existem estatísticas que comprovem a tendência apontada no trabalho de Sonia. Mas os dermatologistas afirmam que o comportamento dos brasileiros não é muito diferente dos europeus e americanos. “É triste ver que as pessoas com mais instrução ignoram a prevenção do melanoma, principalmente nas férias”, lamenta o dermatologista Guilherme Olsen de Almeida, da Faculdade de Medicina do ABC (SP) e do Grupo Brasileiro de Melanoma. Por isso, ele insiste nos cuidados com as crianças. “As queimaduras solares na infância são as que mais predispõem ao melanoma na idade adulta”, explica. Felizmente, há quem atenda aos apelos. A secretária Isabel Michelini, por exemplo, abandonou os banhos de sol depois de conhecer o trabalho da pesquisadora Sonia. “Prefiro ser branquinha e saudável”, afirma. Sua colega, a engenheira química Nathália Portella, 23 anos, há cinco anos deixou de se bronzear. “Sou muito clara, ficava vermelha e sofria com dores e coceiras para voltar à cor normal em alguns dias. É um sacrifício que não

vale a pena”, conclui.