O campeão de audiência deste fim de ano nas tevês americanas é um vídeo de péssima qualidade, no qual uma confraria de homens barbudos sussurra em árabe. Nada menos do que 90% dos aparelhos de tevê dos Estados Unidos – e incontáveis mais ao redor do mundo – estavam sintonizados, na quinta-feira 13, para assistir exatamente a este espetáculo dúbio. Nele, Osama Bin Laden, o inimigo público número 1 de Tio Sam, confraternizava com uma seleção de “mais procurados” pelo FBI, CIA, etc. Admitia a seus convidados a responsabilidade pelos atentados terroristas do dia 11 de setembro. O teipe tem características amadorísticas similares àquelas do pornô caseiro: imagens granuladas e desfocadas, nas quais gente mal ajambrada mantém animada relação. O resultado, também neste caso, não deixa de ser obsceno. A produção é do departamento artístico da al-Qaeda, o grupo terrorista islâmico, e a distribuição ficou a cargo do Pentágono, organização que não costuma titubear em despejar bombas, mas relutou em lançar esta. O enredo do filme, no entanto, já era conhecido. A novidade é que Osama, réu confesso, admite autoria e participação no roteiro. De modo professoral, mesclando informações preciosas, dando graças a Deus (repetidas como um bordão de comédia) e boas risadas, o saudita recorda a operação que abalou seu maior inimigo. Há referências à pelada – partida de futebol, entenda-se – e premonições provando que seus seguidores são bidus (sem conotações racistas, é claro).

O teipe mostra primeiro o encontro de potentados do fundamentalismo islâmico, com um sheik saudita fazendo uma visita de cortesia a Osama. O lugar do encontro, supõe-se, foi numa casa na cidade de Kandahar. Na conversa, Osama diz, ao pé da letra: “Calculamos antecipadamente o número de baixas entre o inimigo, baseando-nos na posição das torres. Calculamos que seriam atingidos três ou quatro andares. Eu era o mais otimista de todos. Devido à minha experiência nessa área, pensei que o incêndio causado pelo combustível do avião derreteria as estruturas de ferro e faria ruir a área atingida pelo avião e os andares acima, apenas.” Depois do plano, a ação: “Nós sabíamos (Osama é daquelas pessoas que falam na terceira pessoa do plural) na quinta-feira anterior (6) que o evento se daria naquele dia (11).”

No vídeo, é feita uma série de relatos de premonições sobre os atentados, tanto pelo hóspede quanto pelo anfitrião. A se acreditar nos testemunhos, as tragédias nos EUA foram antecipadas em sonho por líderes muçulmanos radicais, mujahedins, e até donas-de-casa, a ponto de Bin Laden dizer que ficou preocupado com tanta profetização acurada, com medo de que seus planos vazassem ao inimigo. Uma destas visões, feita por ninguém menos do que o lugar-tenente Abu-Al-Hasan Al-Masri, fala de um sonho no qual uma equipe da al-Qaeda vai jogar uma peleja de futebol contra os americanos. Osama descreve o sonho: “Nosso time entrou em campo e viu uma equipe de pilotos americanos. De todo modo, nós ganhamos a partida (risos).” Também se esclarece que parte dos sequestradores nem sequer imaginava seu destino final antes de entrar nos aviões. “Somente Mohammad (Atta) sabia de todos os detalhes. Os irmãos que conduziram as operações apenas sabiam que se tratava de uma ação que os transformaria em mártires (risos).”

Caçada –

Ao mesmo tempo que seu vídeo fazia sucesso de público ao redor do planeta, Osama se via isolado e em via de encontrar o Criador a quem ele tanto se refere na fita. “A guerra não acabou”, lembrou o secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, desmentindo conclusões apressadas de alguns. Pelas encostas e interiores das montanhas de Tora-Bora, ao Sul do país, os corpos de guerreiros da al-Qaeda acarpetavam as trilhas que levam às cavernas-fortalezas locais, que se imaginam ser os últimos redutos de Bin Laden. Mas há quem diga, como o jornal Christian Science Monitor, que o saudita já teria trocado de endereço e tenha agora um código de endereçamento postal no Paquistão. “Nós acreditamos que Osama está dentro de uma das cavernas de Tora-Bora”, insistiu Rumsfeld na quinta-feira 13. “Tora-Bora cairá até segunda-feira 17, e aí nós veremos se Osama está mesmo enfiado naquele buraco”, disse a ISTOÉ um major de Fort Bragg. “Já coletamos material genético que poderá identificar o corpo de Osama. Ele anda com sósias por toda parte aonde vai. Esses clones têm até características dentárias semelhantes ao original”, acrescenta o major