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CORAGEM Ilana entrevistou dez serial killers, todos sem algemas, e, no Pará, acertou 90% do perfil do criminoso

Nos últimos meses, a polícia do Pará tem sido alvo de uma série de denúncias de violação aos direitos humanos. Mas há um caso que enche de orgulho a banda boa da polícia civil paraense. Trata-se da investigação que colocou na cadeia, no mês passado, um serial killer responsável pelo assassinato de três garotos de 14 anos e pela tentativa de homicídio de um menino de 11. O rigor da investigação e os procedimentos usados nos interrogatórios que levaram André Barboza a confessar os crimes renderam à Polícia Civil do Estado uma insígnia ofertada pelo FBI em um seminário internacional sobre perfil de criminosos, realizado em Curitiba (PR). A investigação homenageada pelos policiais americanos foi conduzida pelo delegadogeral Justiniano Alves Júnior e pelo delegado metropolitano Paulo Tamer. Mas o que mais diferenciou essa investigação de tantas outras realizadas no País foi a participação de Ilana Casoy, uma brasileira formada em administração de empresas que vem se notabilizando como uma espécie de Sherlock Holmes do Brasil, ajudando as polícias de vários estados.

Nos últimos dez anos, Ilana tem estudado o perfil de assassinos em série e autores de crimes violentos. Ela escreveu três livros sobre a ação e o modo de pensar desses criminosos e já prestou dezenas de consultorias a policiais civis e membros do Ministério Público de diversos Estados. Participou da reconstituição do caso de Suzane Von Richthofen (a estudante paulista de classe média que, junto com o namorado, matou os pais, em 2002) e ajudou na elucidação do assassinato de 42 crianças (conhecido como o caso dos meninos emasculados do Maranhão e Pará) que foi denunciado pelas organizações internacionais de direitos humanos e ganhou repercussão mundial.

Aos 48 anos, casada e mãe de dois filhos, Ilana foi chamada para ajudar a polícia do Pará a encontrar o serial killer que vinha matando garotos. Ela analisou as circunstâncias dos crimes e elaborou o perfil do assassino. Dez meses depois, Barboza foi preso no início de fevereiro e, segundo os delegados que o prenderam, 90% do que foi dito por Ilana se confirmou. A princípio, os investigadores imaginaram estar em busca de homossexuais e pedófilos, já que os garotos foram estrangulados e encontrados seminus. Barboza, porém, estabelecia com eles uma relação de confiança, como Ilana suspeitou, dando crédito em jogos em uma lan house. Assim, os convencia a sair com ele na garupa de uma bicicleta até o local do crime. “Não faço mágica, não basta intuir. Tem de ter conhecimento em criminalística, criminologia, medicina legal. E um caso não se resolve sem a polícia, a perícia”, diz ela, que fez cinco viagens ao Pará até o caso ser esclarecido. Além de estudar laudos policias e falar com os parentes dos mortos, Ilana montou e tomou o depoimento do serial killer. Utilizando estratégias específicas de interrogatório desse tipo de criminoso, ele confessou os crimes em detalhes.

Ilana levantou 51 casos de serial killers no Brasil

Barboza foi capturado porque a última vítima, uma criança de 11 anos, jogou o seu celular no meio da mata – que foi encontrado pela polícia – e sobreviveu. Por que ele não a matou? O assassino sofreu abuso sexual dos seis aos 11 anos por um vizinho. Quando criança, passava boa parte do tempo debaixo da cama ou em cima do telhado, para que seu algoz não o pegasse. “A vítima de crimes em série é um espelho do assassino, que a deseja porque tem a sua história nela”, ensina a escritora. “E o Barboza viu nos olhos do menino o medo que tinha do seu vizinho.”

Pouca gente no mundo estuda assassinatos em série. Menor é a quantidade de pessoas que fazem o que Ilana, desarmada, faz: entrevistar serial killers – sem algemas (já esteve com dez). Na penitenciária Lemos Brito, em Salvador, o assassino Adílson do Espírito Santo (que matou três crianças), a um braço de distância de Ilana, sentiu-se acossado e passou a esfregar uma das mãos na cabeça e bater na mesa com a outra. “A senhora está me irritando!”, dizia ele. Outro assassino em série, que hoje está solto e ela prefere não revelar o nome por motivo de segurança, chegou a lhe pedir o endereço, “para que os dois tomassem um café quando ele deixasse a prisão”.